terça-feira, 31 de dezembro de 2019

E a tua contribuição?

Talvez a maior causa dos conflitos humanos seja a falta de contribuição de algumas pessoas para com os esforços dos demais. Ou a contribuição aquém do esperado, segundo a percepção de algum dos indivíduos do grupo. Essa assimetria entre o esperado e a contribuição efetiva intensifica no cérebro o descontentamento. Daí para a emergência do conflito é um pulo.

Quando os indivíduos apenas formam grupo, a assimetria das contribuições muitas vezes é relegada a segundo plano. A razão disso é que todo grupo é apenas reunião de pessoas, estar juntos, física ou virtualmente, como nos tempos contemporâneos pela internet. O grande atrator dos grupos é o sentimento de pertença, estar perto, relacionamento. O grupo se torna uma espécie de meio para fins individuais.

Nos grupos, portanto, quando o comportamento de um passa a incomodar outro, geralmente há a reclamação; se o incômodo continua, quase sempre há a retirada do indivíduo que gera o conflito ou os incomodados se retiram. Há casos, naturalmente, que se transformam em conflitos, e até os que geram homicídios, mas são exceções.

Os conflitos são mais frequentes quando os grupos são organizações. Uma organização é todo agrupamento humano (portanto é um tipo de grupo) que tem pelo menos um objetivo em comum negociado entre seus membros. Uma família é um tipo de organização porque há mais de uma pessoa (é um grupo) com objetivo determinado (existem para realizar alguma coisa) em que cada membro tem que desempenhar alguma função (cada indivíduo precisa ter alguma responsabilidade).

A partir dessa definição é possível constatar que há famílias que não são organizações. Isso significa que seus membros não sabem qual é a razão de sua existência, que objetivos pretendem alcançar conjuntamente. E alcançar objetivos de forma conjunta significa que cada um dos membros precisa ter clara a sua contribuição para que o objetivo seja alcançado. Se algum indivíduo familiar não sabe o que tem que fazer, ele não faz parte da organização; não é, efetivamente, membro da família. Ele apenas faz parte do grupo.

É por isso que há conflitos, por exemplo, entre os pais. Há pai que não sabe qual é a sua contribuição familiar. Pensa que sua responsabilidade termina com a entrega de dinheiro para a esposa pagar as contas e suprir as necessidades de todos ali, fazendo-a informalmente empregada doméstica. Acha que não tem responsabilidade do carinho para com os filhos (e com a esposa, naturalmente), cuidado com as tarefas escolares e disciplina dos filhos, dentre outros afazeres essenciais. Essa é uma grande causa de conflitos nos lares.

Mas há esposas que acham que sua responsabilidade é apenas dar à luz. Depois que trouxe filhos ao mundo, sua responsabilidade parece cessar e se transforma em amiga dos filhos. Quando trabalham, muitas vezes adquirem a mentalidade de homem, pensando que apenas pagar as contas resumem suas obrigações. Não percebem que, sendo ou não empregada oficialmente, precisam dividir as tarefas com os demais membros da família, o que inclui marido, filhos e outros agregados.

Filhos bem educados têm responsabilidades desde crianças. Com poucos anos de idade já podem guardar seus brinquedos, contribuindo com o objetivo familiar de "deixar o lar organizado". Também já podem colocar a roupa suja no lugar adequado para depois ser lavada, contribuindo com o objetivo familiar de "Estar sempre limpo e asseado". À medida que crescem podem ajudar a limpar a casa, lavar a louça e a roupa, e assim por diante. Sempre, sempre é fundamental que cada um dê a sua contribuição. Ao contribuir, as possibilidades de conflitos são mínimas.

Nas organizações, quando cada indivíduo é contratado é-lhe dito exatamente com o que ele deve contribuir. Professores são instruídos a "lecionar 20 horas semanais", "realizar pesquisas durante 10 horas semanais" e "planejar suas atividades por 10 horas semanais". Instituições mais profissionalizadas vão mais longe e dizem exatamente o tamanho e qualidade da contribuição, como é o caso do indivíduo que foi contratado para "publicar 5 artigos científicos por semestre em revistas qualificadas com pelo menos B1 no Qualis/Capes na área de Ensino".

Procure ver quem é o membro da sua família com quem você mais se afina. Se você contribui muito, provavelmente você vai se ver em quem contribui tanto quanto você; se você acha que alguém é folgado, que não trabalha, provavelmente você tem conflito com ele. Se você contribui com muito pouco ou você é o folgado da família, provavelmente você não se dê muito bem com quem sustenta a família ou tem bastante inveja dessa pessoa (ou as duas coisas ao mesmo tempo).

Analise os membros do seu trabalho. Se você faz apenas o que o emprego pede, provavelmente você não vê com bons olhos aquele colega muito produtivo e entusiasmado para o trabalho. Talvez você até monte nele, quando tem oportunidade. Provavelmente vocês não se bicam.

Por que isso? É porque a gente se agrupa por afinidade. Não são os contrários que se unem, como a fantasia social prega. Trabalhador se afina com trabalhador. Quanto mais alguém contribui com seu esforço, mais pessoas que gostam de contribuir procurarão se unir a ela. Por outro lado, quanto mais alguém contribui, realiza feitos interessantes, maior a possibilidade de ser alvo de ódio, indiferença e chacota dos que não gostam tanto assim de contribuir.

Olhe à sua volta. Aquele com quem mais você entra em conflito muito provavelmente é o seu oposto. Aquele com mais você se afina é o retrato mais acabado de você. Quem mais bate palma para você é o mais parecido contigo e vice-versa. Por isso, muito cuidado com quem você elogia sempre e com quem você tenta denegrir constantemente. Suas atitudes dirão o quanto contribuis para a organização a que pertences.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Nãos

Tem sido cada vez mais difícil dizer não às pessoas. Tão difícil que, muitas e muitas vezes, já encontrei pessoas deprimidas por não saber como dizer não a alguém. Quase sempre são as consequências da negação que leva as pessoas a esse cruel estado de espírito. E o pior é que tem sido cada vez mais raro encontrar quem encare com naturalidade o Não como resposta. Mas por que isso está acontecendo?

Você já viu o que acontece com uma criança mimada quando ela pede alguma coisa aos pais (e a quem quer que seja, quando é muito tola) e os pais dizem não? É muito comum que criem uma cena exagerada. Jogam-se ao chão, gritam, esperneiam, enfim, fazem um estardalhaço. Esse comportamento é típico em crianças cujos desejos quase sempre foram atendidos. Quase sempre, porque nas vezes em que não são, aprontam essas cenas tristes.

Os pais devem entender que as crianças passam por fases ou etapas de desenvolvimento. E que essas etapas são naturais, assim como os procedimentos paternos para lidar com os comportamentos delas consequentes. Se as crianças não passarem com os ensinamentos adequados por cada uma das etapas, provavelmente permanecerão em etapas atrasadas para o restante da vida. E serão adultos-crianças ou adultos com comportamentos infantis.

Desde feto até mais ou menos os três anos de idade, a criança vive em um mundo de anomia. Essa etapa se caracteriza pela ausência de leis, normas, regras. Tudo, para a criança, se parece com brinquedo. O mundo é seu brinquedo. O mundo é seu, ainda que desapareça, suma, quando o brinquedo sai de suas vistas. Como o mundo é seu, tudo a criança pode. O peito da mãe é dela, de maneira que ao mesmo tempo em que sacia sua fome, brinca e sente prazer com ele. O dedo da mãe (e de quem quer que seja) também é um brinquedo.

Mas a criança cresce e amplia seu espaço de atuação. Aprende a gatinhar, andar... E aprende a se aventurar. E a correr riscos cada vez maiores. E fica encantada, por exemplo, com os buracos da tomada. Toda vez que ela se aproxima para colocar os dedos lá os pais gritam "Não!!!". Ela toma um susto e os pais a tiram dali. Ela não entendeu nada do grito, mas não pôs o dedinho ali, que poderia ceifar sua vida.

Ela aprende a subir nas cadeiras, nas mesas. E a, novamente, colocar sua vida em riscos. Pais e familiares atentos novamente emitirão a palavra mágica "Não!!!". E outra vez a segurança se estabelece. À medida que o tempo passa, até mais ou menos a idade de 10 a 12 anos, quando o Não fizer parte natural da mentalidade da criança, a fase da heteronomia haverá de dar lugar à etapa de socionomia sem grandes perturbações para os pais e para o pré-adolescente.

Queremos mostrar que é muito raro alguma criança conseguir sair da fase de heteronomia, que é a fase do aprendizado das leis dos outros (hetero = outro e nomia = lei, regra, norma), antes dos 10 anos de idade. A razão disso é que não é fácil sair de um mundo de anomia (a = não, sem, e nomia = lei, regra, norma), sem lei, para outro completamente diferente (heteronomia). A criança vai saindo aos poucos. Tanto é assim que quase tudo a criança pode fazer quando nasce. Os nãos só aparecem muito tempo depois do nascimento, lá pelo primeiro ano de vida. E vão ocorrendo de forma muito lenta no início.

Mas é preciso compreender que os Não são muito poucos em relação aos Sim na vida da criança e de qualquer pessoa. O problema é que o cérebro quase não dá valor para os Sim. Diante de mil Sim, ele vai se concentrar apenas no único Não que receber. Mas são os Não que vão torná-lo mais equilibrado. Reequilibrado, melhor dizendo. É que os Não abrem novas relações neuronais, ampliando a cadeia sináptica. Noutras palavras, os Não exigem que o cérebro amplie sua capacidade compreensiva.

Crianças que saltam da fase de hereronomia não conseguem conviver pacificamente nas etapas de socionomia, que é  o reconhecimento e obediência às infinitas leis dos indivíduos organizados em grupos. E sofrem mais ainda quando os pais os fazem saltar para a distante autonomia, que só pode ser alcançada por aqueles que obedecem às leis dos outros (heteronomia) e dos grupos (socionomia). Na fase de autonomia o indivíduo vê que mesmo seguindo todas as leis é necessário criar outras, para complementá-las, sem transgredi-las. Cria suas próprias leis e as segue. É por isso que autonomia quer dizer "criar leis para si mesmo". Mas sem transgredir nenhuma outra.

Quem não aceita um Não é criança. Ainda que tenha décadas de existência, é criança, age como tal. Quem assim procede acha que tudo lhe pertence, tudo é seu brinquedo, como se tivesse dois ou três anos de idade. Seus pais, talvez desconhecendo esta explicação, não lhe souberam dar limites, não aprenderam a dizer Não. Na verdade, não foram pais, tentaram ser colegas. Nem amigos foram, porque amigo diz Não sem problema algum.

O marido matou a mulher porque ela se recusou a ser simples empregada dele; já a mulher matou o marido porque não admitia que se encontrasse com os amigos para jogar futebol no final de semana. O chefe demitiu o subordinado porque não aceitou a recusa em fazer-lhe favor pessoal no sábado pela manhã, que nada tinha ver com o trabalho, mesmo sabendo que o subordinado era Adventista do Sétimo Dia. O amigo se tornou inimigo porque o outro se recusou a lhe servir de motorista para suas bebedeiras. Os eleitos e candidatos que não aceitam a vitória do adversário e ficam inventando picuinhas para sabotá-lo. Os torcedores do time que não aceita a vitória do adversário. São quase infinitos os exemplos de despreparação para o Não.

Vale dizer, finalmente, que as pessoas têm o livre arbítrio de fazer ou deixar de fazer. E isso precisa ser reconhecido, para o nosso próprio bem. Se não admito o direito do outro de se recusar, de dizer Não, estou dando a ele o direito de não aceitar o meu Não. Essa lição precisa ser ensinada a todos, desde a mais tenra idade, para que tenhamos um mundo de pessoas mais sóbrias, mais compreensivas, mais receptivas, mais humanas.

domingo, 22 de dezembro de 2019

Deveres

Pode até parecer um contrassenso, mas não são os direitos que fazem a humanidade avançar em civilidade, mas sim os deveres. Os direitos, no máximo, servem para garantir que os deveres até então praticados ou exemplificados se consolidem. Os direitos representam, portanto, a codificação do avanço nos deveres efetivamente praticados e os resultados maravilhosos que são capazes de proporcionar. Quanto mais alguém é capaz de cumprir com os seus deveres, mais brilhante e luminoso efetivamente será.

Um dever é um tipo de responsabilidade moral que o indivíduo tem para consigo mesmo. Quando falamos em moralidade estamos nos referindo aos atos considerados belos e justos em forma de prática de um ideal de ação perfeita. Dessa forma, a perfeição moral é chamada de ética, enquanto a prática real que se aproxima ou se afasta desse ideal é chamada de moral. Uma ação moralmente bela e justa que parta da vontade do indivíduo em praticá-la é o que chamamos dever.

Isso significa que há ações morais que não partem da vontade espontânea do indivíduo, como é o caso daqueles impostos pelas leis. Há deveres, portanto, que vêm da lei. Esses tipos específicos de deveres representam uma garantia para os outros de que as pessoas terão que agir de determinada forma. É "proibido matar" representa o dever de não matar, consequentemente, um direito a todos de não serem mortos voluntariamente por outrem.

Mas o direito que vem com a imposição legal de não matar é a consequência da prática efetiva desse proceder por alguns indivíduos e comunidades. Os legisladores perceberam que os indivíduos que se abstêm do poder de matar os outros, assim como os grupos a que pertencem, são mais felizes porque têm mais segurança de que a vontade dos outros não vai redundar em suas mortes. É que quem mata os outros é sempre uma quantidade menor de pessoas que convive na sociedade. É preciso conter os poucos para garantir a vida dos muitos. Mas o dever do direito pode ser negligenciado, e os direitos correspondentes, não praticados.

Então, a prática do dever de não matar de alguns indivíduos e de suas comunidades levou outras comunidades a criar leis p ara que esse dever fizesse parte de suas realidades. E isso vale para todos os outros tipos de ações voluntárias para o bem. É que todos os deveres justos e belos são sempre do bem. E quanto mais as pessoas "inventarem" deveres justos e belos, mais e mais elas serão felizes e suas comunidades também.

Qual é a diferença, então, de uma cidade em que a insegurança predomina, onde a saúde e a educação não funcionam, e outra em que há paz, harmonia e todo o setor público funciona? Você vai perceber que o dever é a diferença. Em cidades, bairros, ruas e quadras que há beleza, paz, civilidade e tudo o mais que representa um bem as pessoas que ali vivem praticam de fato o bem. Nas cidades onde o bem não é praticado, tudo é muito feito, triste, sujo, descuidado.

Veja em casa, na sua casa. No quarto onde seus irmãos dormem, se eles forem organizados, limpos, higiênicos, bondosos, tudo ali será organizado, limpo, higiênico, suave, pleno de leveza; nos quartos onde não o forem haverá roupas pelo chão, toalhas molhadas na cama, cuecas e calcinhas penduradas no banheiro, gavetas desorganizadas, roupas nos armários amarrotadas e tudo o mais. Onde o dever está presente, há amor, porque amar é agir; onde o dever está ausente (ou onde apenas o direito é cobrado) não há amor, porque amor é ação, é prática.

Veja as cidades ricas. São ricas não é porque exploram os outros, como muitos querem desesperadamente que a gente acredite. São ricas porque produzem coisas, fazem coisas, que estejam o mais próximo possível daquilo que as pessoas desejam. E quanto fazem essas coisas têm sempre em mente como gostariam que fizessem para elas. Então, elas pensam nelas mesmas quanto estão fazendo as coisas para os outros. E por isso as pessoas gostam das coisas que essas pessoas fazem, porque se parecem com elas.

Veja as cidades e bairros miseráveis. As pessoas jogam lixo nas ruas, porque acham que é obrigação do prefeito limpar; as pessoas não limpam suas casas todos os dias, porque há sempre alguém pensando que isso é obrigação dos outros; as pessoas não limpam os lugares onde dormem, porque suas mentes acham que isso não é importante. A maioria das pessoas que habita essas cidades e bairros e casas ainda não aprendeu a força do dever.

Se há lixo na rua, eu tenho que limpar; como consequência, não posso jogar lixo na rua. Se não tem emprego no meu bairro, eu tenho que inventar algo que possa dar emprego aos outros agora ou no futuro; como consequência, tenho que incentivar a criação de empregos e a produção dos que fazem isso. Se alguém cuida faz o bem todo dia, eu tenho a obrigação de pelo menos admirar esse gesto bom; mas se eu for inteligente o suficiente, terei que imitar o gesto pelas coisas boas que isso traz.

Veja todas as guerras que já aconteceram na humanidade e que estão acontecendo hoje. São todas disputas por direitos. Todos querem ter direitos e não admitem os direitos dos outros. Todos querem, querem e querem; ninguém se coloca no dever de servir. Quem não serve não progride. O progresso é consequência do servir da maioria da população de uma comunidade.

Veja os períodos de bonança e felicidade humanas. Todos foram construídos quando os povos ampliaram seus deveres, levando o bem para o maior número possível de pessoas. Além de acabar com as guerras, os deveres ampliam os espaços e formas de convívio e fraternidade.

Como se pode ver, não brigue por direitos. Aja. Faça o bem. Como mostrou o Cristo há milhares de ano, é aquilo que você faz que vai garantir a solidez das tuas explicações, ainda que sejam por parábolas, porque as pessoas que amam os direitos (e abominam os deveres) têm limitações de raciocínio e compreensão. E essa é a consequência natural: quem age em conformidade com deveres amplia sua capacidade neuronal e mental, em detrimento dos que se apegam a direitos.

Assim, se queres ser livre e iluminado, faça o bem em todas as circunstâncias. Fazendo o bem sempre você estará garantindo uma coisa que é vital aos que não fazem o bem: a realização dos direitos que eles desejam. E estarás fazendo a grande recomendação do rabi galileu: vigiar.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Direitos

Vivemos um tempo que pode ser caracterizado pela busca por direitos. A maioria, contudo, não apenas os buscam: batalham por eles. E batalha no sentido pleno do termo, incluindo o uso de recursos que os próprios direitos não recomendam, como agressões e assassinatos.

A impressão que se tem é que uma insanidade coletiva tomou conta de quase todos os ambientes, desde os familiares aos de contornos planetários. Quando a busca por algo vai além do racional, do socialmente aceito e do não prejuízo ao outro tem alta probabilidade de adentrar os territórios da loucura. Ao que tudo indica, essa loucura é gerada pela exacerbação do orgulho profundamente enraizado na mente dessa gente.

Isso não quer dizer, por outro lado, que não se busquem direitos. Mas essa busca tem que ser feita de forma simpática, ainda que o resultado buscado seja negado até com atos violentos. A minha busca por direitos não pode ferir os direitos dos outros, nem mesmo daqueles que negam os direitos pelos quais eu luto. Não posso advogar para mim o direito de ser bem tratado maltratando os outros. Não posso defender o direito à tolerância sendo intolerante.

A exacerbação do egoísmo começa e para na ideia de que tudo posso ter, tudo posso almejar, tenho o direito de querer tudo aquilo que eu imagino. Essa exacerbação se torna demência quando esquece o outro lado: se tenho direitos, alguém tem o dever. Se eu tenho o direito de ser bem tratado, alguém tem o dever de me tratar bem. Se tenho o direito de ser tolerado, alguém tem o dever de ser tolerante. Simples assim. O direito a que eu viso é um dever para alguém.

E a demência se aprofunda quando não é compreendida a consequência do esquema lógico direito-dever. Se eu almejo ser bem tratado, alguém tem que me tratar bem, mas EU TAMBÉM tenho que tratar bem a alguém. Se eu tenho direito à tolerância, alguém tem que me tolerar, mas EU TAMBÉM tenho que tolerar todo mundo, assim como todo mundo tem que me tolerar.

É que direito tem que trazer dever. Se não, não é direito. É, no mínimo, tirania. Só o tirano tem apenas direitos e um dever, que é o dever de ser tirano. E isso vale para todos os direitos, inclusive as cotas raciais. Se admito a existência de raças e algumas delas não têm certos direitos, esses direitos precisam ser a ela garantidos para que elas possam garantir esses mesmos direitos aos outros. É outra forma de dizer a mesma coisa: se pretos têm direito a cotas em hospitais, os pardos também têm que ter, se não tiverem. E todos os demais.

A mentalidade de direito é derivada da mente que reconhece que os direitos que eu busco precisam ser universalizados. O direito precisa tender à universalização, que é corolário de integração, inclusão, associação e tudo o mais que leve à simpatia, empatia, amizade, parceria, amor. O fim a que todo direito teria que almejar é o amor, que é cuidar. E nenhum direito é conquista se não for por esse caminho, ainda que as ilusões de guerras e batalhas sinalizem ao contrário.

Os direitos ampliam, portanto, os espaços de ações humanas. E ações humanas no sentido de compreensão, afeto, a externalização de contentamento com o outro, de proximidade e integração com o outro. Não é simplesmente o fato de ter vaga reservada em supermercado, sinalizada, que vai efetivamente me garantir o direito. Não. Alguém pode ter tudo isso e muito mais, mas ser ignorado, tratado com civilidade e indiferença.

Há o caso da cidade em que todos os cadeirantes tinham acessibilidade plena. Iam e vinham de onde bem entendessem. E pareciam ser, se não felizes, pelo menos contentes com o que a cidade lhes oferecia. Noutra cidade, havia pouca acessibilidade. Mas o povo era tão amoroso que os cadeirantes algumas vezes preferiam usar o apoio carinho das pessoas que os meios de acessibilidade. Não faziam isso porque os meios fossem impróprios, mas porque se sentiam muito felizes com a ajuda que recebiam.

Naturalmente que todos têm o direito de lutar ou buscar os direitos que bem entenderem. E esse direito não lhes pode ser tirado. Mas é fundamental, inclusive para a garantia dos próprios direitos, que vejam e estejam dispostos a praticar as contrapartidas desses direitos em forma de deveres. E agir sempre na plenitude do dever que é, em última análise, o exercício do próprio direito almejado.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Onde Está o teu Tesouro?

Você já parou para pensar no fato de que a maior parte do tempo a gente pensa em apenas poucas coisas? Faça o teste, se você é capaz. À noite, antes de dormir, tente se lembrar do que você pensou durante o dia. Veja em que estavam concentradas as suas preocupações, as suas alegrias, enfim, com o que a sua mente estava ocupada. A mente só se ocupa com as coisas que tem no coração.

Você constatará que passou o tempo todo pensando nas mesmas coisas. Passaram-se os segundos, minutos e  horas, mas a sua cabeça esteve o tempo todo apenas naquelas coisas que, claro, não saíam dela. Ainda que você supostamente tenha pensado em milhões de coisas, como costumamos dizer, essas milhões de coisas, na verdade, são milhões de formas de ver e pensar a mesma coisa. Vamos a uns exemplos, para que isso seja bem entendido.

Um comerciante de farinha de Cruzeiro do Sul, no Acre, certa vez passou uma manhã inteira comigo. Falava tanto de farinha que resolvi fazer uma lista do que ele dizia. Coletei expressões do tipo "farinha do Amazonas", "Farinha crocante", "farinha pintada", "farinha dágua", "farinha de tapioca", "farinha de Uarini", "Farinha de cor", "Farinha embarcada", "Saco de farinha", "Amostra de farinha", "Quantidade de farinha" e mais 37 coisas parecidas. Além disso, coletei frases do tipo "gostou da minha farinha", "recebeu a minha farinha", "não mandou a minha farinha", "estragou toda a farinha", "a farinha chegou atrasada", "a farinha está cara", "a farinha é boa" e mais 41 semelhantes. No total, o amigo falou 96 vezes sobre farinha, o que dá 24 vezes por hora, que representam 2,5 vezes por minuto!!!

Um ex-aluno, apaixonado pelo Flamengo, me reencontrou recentemente em um parque infantil em Florianópolis. Estava com uma bela camisa de seu clube do coração. Quando me viu, acenou e veio em minha direção, feliz da vida. Chegou, me deu um abraço e logo em seguida me mostrou, com orgulho, o escudo do clube belamente estampado na camisa. E me interrogou: "Não é lindo, professor?". Assenti com a cabeça e confirmei "É verdade". Esse amigo maravilhoso chegou, ficou comigo quase meia hora e se foi, mas não falou uma palavra sequer comigo!!! Ele só falou do Flamengo!!! Tentei de diversas formas saber dele, da vida dele, mas ele só falava do Flamengo. Perguntei, por exemplo, se ele tinha família. A resposta dele? Foi essa "três flamenguistas, professor, graças a Deus". Na pergunta seguinte, sobre quem era sua esposa, ele disse "é uma flamenguista roxa, professor". Tive que ficar apenas ouvindo...

O que esses dois casos têm em comum? O mesmo encantamento, a mesma paixão. É exatamente como são todos os casais apaixonados. A mente deles está sempre voltada para aquilo que eles amam de verdade. E é assim com todo mundo. Cientistas amam falar de suas descobertas, seus métodos, desafios, dificuldades que encontram no dia a dia de suas investigações. Políticos amam falar de suas estratégias, seus projetos, articulações, desafetos, parcerias. Médicos amam falar das doenças, curas, terapias, instrumentação, equipamentos inovadores para a saúde. Professores adoram falar (bem e mal, talvez mais mal) de seus alunos, aulas, estratégias de ensino, conteúdos ensinados e assim por diante.

Não tem jeito. Amamos falar do que amamos. E falamos o tempo todo. É no que amamos que está e estará sempre a nossa cabeça, a nossa mente. Porque o que amamos é, de fato, o bem mais precioso que se tem. Mães amam falar de seus filhos (pais também) e falam deles o tempo todo, se deixarmos. Criminosos amam falar de suas espertezas, da mesma forma que o avaro, o mão de vaca, não deixa de pensar um só instante naquilo que tem, em como não deixar ninguém tocar neles e em como conseguir mais coisas para acumular.

Se você quiser saber o que você ama de verdade, presta atenção no que você fala e para onde está voltada a tua mente, os teus pensamentos. É ali que está o teu tesouro. Se esse tesouro te faz sofrer ou faz sofrer alguém, você está doente, aprisionado, apaixonado pelo mal; se o teu tesouro te faz feliz, faz feliz a alguém mais e não trará mal algum futuro, você caminha pelas sendas do bem a caminho da felicidade.

Cuida de ver o que teus amigos falam. Escute-os durante várias vezes. Tente identificar sobre o que eles falam. Se falarem de coisas boas para ele, para você e todas as pessoas com as quais ele convive, ajude-os, incentive-os, porque vale a pena a irradiação dessas ondas de bem; mas se ele fala sobre coisas ruins, que o prejudicam, que pode lhe prejudicar ou gerar o mal a quem quer que seja, aconselhe-os a reverem essa paixão. Como são seus amigos, você não os pode abandonar. Eles precisam da luz necessária para ver o que você percebeu. Você poderá dar essa luz a ele. A luz do entendimento.

Note, portanto, que todos temos um tesouro. E que é fácil saber qual é ele. Basta que prestemos atenção no que falamos, porque só falamos o tempo todo daquilo que está o tempo todo nas nossas cabeças. Que seu tesouro traga o bem para te tornar feliz e levar a felicidade a outros corações.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Tu Amas?

Amor é uma palavra que pode ser encontrada em qualquer lugar, o tempo todo. Apenas no Google, em língua portuguesa, há quase dois bilhões de algum tipo de texto ou postagem sobre ela. Parece que todo mundo precisa falar de amor. A impressão que se tem é que todo mundo tem alguma coisa a falar sobre ele. Essa efusão e profusão de falas, infelizmente, tem uma coisa bastante peculiar, que caracteriza quase todas elas: um gigantesco e terrível equívoco. Estão confundindo amor com diversas coisas, principalmente afeto. Amar é cuidar. Expliquemos isso.

Tomemos o caso bíblico, em que o Cristo pede que nos amemos uns aos outros. Ele não pediu que nos fizéssemos carinho uns aos outros, muito menos que fiquemos nos dizendo "eu te amo" uns para os outros. Ainda que o Mestre Galileu tenha falado inúmeras vezes algo do tipo "assim como eu vos amo", ele não estava fazendo uma declaração de amor do jeito que imaginamos hoje. Ele estava se referindo ao cuidar.

O que fez o Cristo durante toda a sua vida? Exatamente: cuidava das pessoas. Cuidava de todo mundo. Desde o acordar ao dormir, passava o tempo todo cuidando das pessoas. E cuidava de inúmeras formas. Algumas vezes, dava de comer aos famintos; noutras vezes, dava de beber aos que tinham sede; inúmeras vezes consolava, com palavras que penetravam a alma; e muitas e muitas vezes, ensinava. Cristo agia o tempo todo. Não parava. Até chegou a dizer que o Criador amava mais do que ele porque Deus nunca parava de agir, criar, cuidar.

Por erro de tradução, os textos bíblicos tornaram a verdadeira fonte de transformação em algo banal. Agir é o que leva qualquer um para a frente. Mas não basta qualquer tipo de ação. A única que faz transformação é aquela ação que torna o outro feliz. Então agir para beneficiar o outro é a chave de tudo. É pela felicidade do outro que encontramos, nós, a nossa própria felicidade.

E temos que fazer aos outros aquilo que gostaríamos que fizessem por nós. Nossa ação tem que ser direcionada para essa lógica. Tornar o outro feliz como gostaríamos que nos fizéssemos felizes. Temos que agir sempre. E agir no bem. Daí ficaremos triplamente felizes. Primeiro, com o bem que fizemos ao outro; segundo, com o próprio ato de fazer o bem, no exato instante em que estamos fazendo o bem ficamos felizes; e terceiro, com o bem que to ato de ter feito o outro feliz nos faz felizes.

E não importa se o outro perceba o que fizemos por ele. Importa muito menos se o outro vai fazer alguma coisa por nós. A gente consegue ser feliz, amando, independentemente do outro. Somos nós que construímos a nossa felicidade porque somos nós que agimos. Não dependemos do outro para sermos felizes. Se dependermos, nunca seremos felizes.

É por essa razão que a pessoa que aprendeu a amar é aquela que aprendeu a cuidar dos outros e da natureza. Natureza e as outras pessoas são a matéria-prima com as quais treinamos nossa capacidade de fazer o bem, da mesma forma que faz o Criador. Um dia seremos deuses, disse Jesus. Então temos que treinar, exercitar agora, todos os dias, a cada oportunidade. Quanto mais treinamos, mais hábeis ficaremos na produção da felicidade. Da mesma forma que o primeiro a ser iluminado é aquele que acende a luz, o primeiro a ser feliz é aquele que produz a felicidade.

Não é difícil entender que há pessoas que são muito mais feliz, sim, do que a maioria da população do planeta. Essas pessoas felizes são aquelas que amam o maior número possível de vezes. Vale dizer, são aquelas que cuidam das pessoas o maior número de vezes. A cada vez que cuidam, a cada vez se sentem e se fazem felizes. Quanto menos cuidamos, menos felizes somos. E se não cuidamos, não tem outro jeito: a infelicidade será nossa companheira permanente.

Para servir, é preciso aprender. Quanto mais coisas sabemos, maior o número de formas diferentes de cuidar dos outros. E de nós mesmos. A felicidade, então, está associada, depende, do que sabemos. Mas não basta o saber. É preciso que tenhamos a vontade e a determinação de usar o que sabemos. É preciso praticar. É preciso aprender e colocar em prática os saberes. Só assim a felicidade vem.

Tu amas? Quantas vezes você faz o bem aos outros todos os dias? Veja se o primeiro foco de teu cuidar é cada membro da tua família; depois, dos teus amigos e colegas de trabalho. Faz um balanço diário de quantas vezes você fez o bem a cada um deles. E balanço significa quantas vezes você fez o bem e quantas vezes você recebeu o bem. Se recebes mais bem do que dás, és mais amado(a) do que amas. Mas é preciso aprender a ver bem tanto o que fazes quanto o que recebes, para não seres injusto(a).

O egoísta é aquele que ainda não aprendeu a amar, como mostraremos na próxima postagem. Veremos por que o egoísmo nos afasta do amor e de Deus. Entenderemos por que o egoísta é um parasita que mata todos os dias a si mesmo.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Críticas

Há algum tempo tem havido um movimento mundial para a promoção da crítica. Esse movimento pretende que a crítica faça parte do cotidiano das pessoas no mundo todo. Há, por exemplo, um braço filosófico, chamada filosofia crítica, e principalmente na educação, com diversas denominações. Embora louváveis algumas dessas iniciativas, é preciso muita cautela pelos impactos negativos que a maioria delas gera. Toda crítica é um veneno.

Pegue qualquer texto ou preste atenção ao discurso das pessoas que se dizem críticas. Pelo menos uma de três coisas serão percebidas. A primeira é o esforço de encontrar erros nos trabalhos e feitos dos outros. Neste particular, todo crítico é incapaz de perceber e compreender que o ser humano é imperfeito. Por mais genial que possa parecer, como nas obras de arte, tais como Michelangelo e Mozart, há sempre a possibilidade de se encontrar falhas, erros nelas.

Os críticos são incapazes de perceber a imperfeição na prática e no raciocínio. Tanto é que obras formidáveis são erigidas desconsiderando essa singela constatação. Exigem dos outros a perfeição que ninguém é capaz de alcançar. E não percebem o outro lado da crítica. Quem critica dá a impressão de que sabe mais do que o que fez o ato falho. E age como tal. Ora, se o crítico é tão genial assim, por que não faz perfeito o que considera falho? Vejamos alguns exemplos.

Há quem diga que Neymar é isso ou aquilo. Tudo bem, aceitemos por enquanto a crítica. Mas o crítico que o faz tem que ser capaz de jogar futebol tão bem ou melhor do que Neymar, em primeiro lugar, e, depois, agir com a retidão que exige do jogador. Isso o crítico não percebe: precisa ser capaz de colocar na prática aquilo que exige do outro. Se não fizer isso, é hipocrisia o que faz.

A segunda coisa é a inveja que está por trás de toda crítica. A inveja é aquela vontade inconsciente de ser ou fazer o que denuncia. Quando alguém diz que fulano é feio, no fundo quer ser fulano. Se outro diz que beltrano faz coisas reprováveis, muito provavelmente também gostaria de fazer. Quase tudo inconscientemente. É que o discurso diz coisas que não falamos. Ou falamos nas entrelinhas.

A inveja é um veneno que corrói o corpo, a mente e a sociedade. Quando ela está presente, provoca a produção de hormônios nocivos ao corpo, envenenando-o, matando-o aos poucos. E se o alvo da inveja se incomodar com ela, o mesmo efeito lhe é produzido, envenenando-o também. A razão disso é que a mente, que faz parte do corpo espiritual do invejoso, está doente. E a doença penetra no corpo, contaminando-o. Quanto mais pessoas se contaminarem com os efeitos do ato invejoso, a doença passa a fazer parte do corpo da sociedade, matando-a aos poucos.

Fica fácil compreender que todo crítico deseja ser o que critica. Portanto, a terceira coisa que o crítico não percebe é seu desejo de fazer o que denuncia. Isso significa que todo crítico é um incapaz. É alguém que torna pública a sua incapacidade de fazer. Como não sabe fazer, denuncia, critica.

Como superar a crítica? Há duas possibilidades, pelo menos. Para o que gosta de criticar, aprender. Todo crítico é carente de saber, entendido o saber como a) compreender a lógica das coisas, b) saber manusear a lógica das coisas e c) agir sempre em conformidade com a lógica da coisa. Vejamos alguns exemplos.

Se digo que Neymar deveria agir de determinada forma, primeiro devo aprender a jogar futebol tão bem quanto ele para galgar a fama que ele auferiu para experimentar a ação criticada no jogador. Aqui temos as três coisas a) entender a lógica de como jogar futebol tão bem quanto Neymar, b) saber jogar futebol tão bem quanto Neymar e agir da forma como eu critiquei e c) agir sempre da forma como eu critiquei, sabendo jogar futebol tão bem quanto Neymar.

Alguém poderá argumentar que o que foi criticado foi o fato de Neymar ser desrespeitoso com a imprensa. Sim, é verdade. Mas o desrespeito é consequência da fama extrema do jogador, que por sua vez é decorrente da sua brilhante habilidade de jogar futebol e que essa habilidade se mantém constante. Enquanto o brilhantismo se mantiver, provavelmente a fama se manterá e, não tão provavelmente assim, o desrespeito poderá se perpetuar.

A segunda coisa é em relação ao criticado. Jamais revidar. Jamais agir como crítico. Crítica é veneno. Como o crítico tem visão e interpretação limitadas, não se lhe deve dar ouvidos. Se a ação criticada foi com intenção do bem, continue a agir assim; se não o foi, corrija-a. Neste último caso, o crítico se lhe foi de alguma utilidade. Mas não se deixe influenciar por ele. Ele quer, inconscientemente, lhe envenenar porque ele lhe inveja.

A mente e a atitude dos críticos estão voltados para a destruição. Agindo assim, muitos até de boa vontade, acreditam que estejam contribuindo para melhorar as coisas. Suas habilidades estão voltadas para o ruim, que é o que lhes predomina interiormente, jamais para o bem. Se virem mil coisas boas e uma ruim, seus olhos captarão apenas o que é ruim, deixando de lado as mil outras. Por isso os críticos jamais serão sábios.

Para transformar qualquer crítico em pessoa normal, é necessário que sigam o caminho do saber. Primeiro precisam aprender a lógica das coisas que criticam, porque não a conhecem. Só criticam porque não sabem como ela funciona. Segundo, precisam aprender a prática dessa lógica. Geralmente o crítico tem ódio do fazer, do praticar, sem perceber que sem saber fazer não há saber. E terceiro, é preciso agir em conformidade com a lógica da coisa que se aprendeu a colocar em prática.

Todas as pessoas que fazem esse percurso deixam de ser críticas. E se transformam em pessoas normais. Se aprender mais um pouco sobre a lógica das coisas e do mundo, a pessoa vai se enchendo de amor por tudo o que aprende, deixando a crítica no passado distante. Passa a se amar e amar aos outros. O aprofundamento no saber pode lhe levar à sapiência. O sábio é aquele que percebe as inconsistências das coisas e, amorosamente, que aprendeu no estágio anterior, ensina a caminhar pelo exemplo. O sábio é aquele que faz o que fala. O crítico é aquele que fala do que não sabe fazer e se engana, pensando que sabe do que fala.

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