quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Tu Amas?

Amor é uma palavra que pode ser encontrada em qualquer lugar, o tempo todo. Apenas no Google, em língua portuguesa, há quase dois bilhões de algum tipo de texto ou postagem sobre ela. Parece que todo mundo precisa falar de amor. A impressão que se tem é que todo mundo tem alguma coisa a falar sobre ele. Essa efusão e profusão de falas, infelizmente, tem uma coisa bastante peculiar, que caracteriza quase todas elas: um gigantesco e terrível equívoco. Estão confundindo amor com diversas coisas, principalmente afeto. Amar é cuidar. Expliquemos isso.

Tomemos o caso bíblico, em que o Cristo pede que nos amemos uns aos outros. Ele não pediu que nos fizéssemos carinho uns aos outros, muito menos que fiquemos nos dizendo "eu te amo" uns para os outros. Ainda que o Mestre Galileu tenha falado inúmeras vezes algo do tipo "assim como eu vos amo", ele não estava fazendo uma declaração de amor do jeito que imaginamos hoje. Ele estava se referindo ao cuidar.

O que fez o Cristo durante toda a sua vida? Exatamente: cuidava das pessoas. Cuidava de todo mundo. Desde o acordar ao dormir, passava o tempo todo cuidando das pessoas. E cuidava de inúmeras formas. Algumas vezes, dava de comer aos famintos; noutras vezes, dava de beber aos que tinham sede; inúmeras vezes consolava, com palavras que penetravam a alma; e muitas e muitas vezes, ensinava. Cristo agia o tempo todo. Não parava. Até chegou a dizer que o Criador amava mais do que ele porque Deus nunca parava de agir, criar, cuidar.

Por erro de tradução, os textos bíblicos tornaram a verdadeira fonte de transformação em algo banal. Agir é o que leva qualquer um para a frente. Mas não basta qualquer tipo de ação. A única que faz transformação é aquela ação que torna o outro feliz. Então agir para beneficiar o outro é a chave de tudo. É pela felicidade do outro que encontramos, nós, a nossa própria felicidade.

E temos que fazer aos outros aquilo que gostaríamos que fizessem por nós. Nossa ação tem que ser direcionada para essa lógica. Tornar o outro feliz como gostaríamos que nos fizéssemos felizes. Temos que agir sempre. E agir no bem. Daí ficaremos triplamente felizes. Primeiro, com o bem que fizemos ao outro; segundo, com o próprio ato de fazer o bem, no exato instante em que estamos fazendo o bem ficamos felizes; e terceiro, com o bem que to ato de ter feito o outro feliz nos faz felizes.

E não importa se o outro perceba o que fizemos por ele. Importa muito menos se o outro vai fazer alguma coisa por nós. A gente consegue ser feliz, amando, independentemente do outro. Somos nós que construímos a nossa felicidade porque somos nós que agimos. Não dependemos do outro para sermos felizes. Se dependermos, nunca seremos felizes.

É por essa razão que a pessoa que aprendeu a amar é aquela que aprendeu a cuidar dos outros e da natureza. Natureza e as outras pessoas são a matéria-prima com as quais treinamos nossa capacidade de fazer o bem, da mesma forma que faz o Criador. Um dia seremos deuses, disse Jesus. Então temos que treinar, exercitar agora, todos os dias, a cada oportunidade. Quanto mais treinamos, mais hábeis ficaremos na produção da felicidade. Da mesma forma que o primeiro a ser iluminado é aquele que acende a luz, o primeiro a ser feliz é aquele que produz a felicidade.

Não é difícil entender que há pessoas que são muito mais feliz, sim, do que a maioria da população do planeta. Essas pessoas felizes são aquelas que amam o maior número possível de vezes. Vale dizer, são aquelas que cuidam das pessoas o maior número de vezes. A cada vez que cuidam, a cada vez se sentem e se fazem felizes. Quanto menos cuidamos, menos felizes somos. E se não cuidamos, não tem outro jeito: a infelicidade será nossa companheira permanente.

Para servir, é preciso aprender. Quanto mais coisas sabemos, maior o número de formas diferentes de cuidar dos outros. E de nós mesmos. A felicidade, então, está associada, depende, do que sabemos. Mas não basta o saber. É preciso que tenhamos a vontade e a determinação de usar o que sabemos. É preciso praticar. É preciso aprender e colocar em prática os saberes. Só assim a felicidade vem.

Tu amas? Quantas vezes você faz o bem aos outros todos os dias? Veja se o primeiro foco de teu cuidar é cada membro da tua família; depois, dos teus amigos e colegas de trabalho. Faz um balanço diário de quantas vezes você fez o bem a cada um deles. E balanço significa quantas vezes você fez o bem e quantas vezes você recebeu o bem. Se recebes mais bem do que dás, és mais amado(a) do que amas. Mas é preciso aprender a ver bem tanto o que fazes quanto o que recebes, para não seres injusto(a).

O egoísta é aquele que ainda não aprendeu a amar, como mostraremos na próxima postagem. Veremos por que o egoísmo nos afasta do amor e de Deus. Entenderemos por que o egoísta é um parasita que mata todos os dias a si mesmo.

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