sexta-feira, 10 de maio de 2019

Servir

Nesses tempos de intolerância e orgulho profundo, falar de servir parece antiquado. Parece, mas não é. Tanto que as grandes empresas e governos eficientes em todo o mundo estão voltando suas ações para esse verbinho. Não faz muito tempo que pessoas no mundo todo se revoltaram contra ele. Aliás, ainda hoje, a maioria das pessoas imagina que servir se opõe a liberdade. Vamos mostrar aqui que isso não passa de ilusão. Servir é a razão da vida. Só que essa razão tem outro nome, nome esse que quase todos, equivocadamente, relacionam a futilidade. Vamos por parte.

Em sentido amplo, servir é sinônimo de suprimento de necessidade. Quando alguém necessita de alguma coisa, dá origem às oportunidades de suprimento. Todas as vezes que alguém que tem suas necessidades supridas, portanto, esse ato designamos de servir. É por isso que o garçom nos serve, ao suprir nossa necessidade de alimentação; o médico nos serve, suprindo nossa necessidade de saúde; os livros nos servem, suprindo nossas necessidades de informação e conhecimento; os professores nos servem, suprindo com conhecimentos.

O solo serve as árvores, suprindo-lhe as necessidades de nutrientes; as raízes das árvores servem às outras partes, distribuindo os nutrientes; árvore supre os pássaros, seres humanos e insetos, dando-lhes frutos e néctares, que em troca lhes dão cuidados e espalham suas sementes e pólens. Cadeias como essas acontecem no mundo todo, o tempo todo, ainda que a maioria dos indivíduos envolvidos nelas não tenham consciência disso.

Se olharmos as coisas com mais atenção, veremos que a servidão (é esse mesmo o termo adequado) se espalha pelo universo. Tudo está conectado em uma infinita rede de servir. E isso parece ser uma lei universal que existe para o nosso próprio bem e de tudo aquilo que existe no universo. Tudo, portanto, serve e é servido. Se houvesse algo que existisse e não fosse servido e também não servisse, em pouco tempo provavelmente desapareceria. Tudo o que existe, então, cumpre algum papel nessa infinita teia do servir.

Algumas pessoas, extremamente ignorantes, tentam ser servidos sem servir. Algumas delas juram que conseguem ou que conseguiram esse feito alguma vez. Mas isso é mera ilusão. Nada acontece fora dessa relação de servir e ser servido. Não há quem apenas sirva, da mesma forma que não há quem apenas seja servido. Ainda o tirano, que imagina que não serve a ninguém, de fato não sabe a quem serve, porque a verdade é que ele fazer sua servidão.

Para surpresa de muitos, todas as vezes que teimamos sair dessa cadeia do servir, temos problemas. Tente ficar sem fazer nada, absolutamente nada, e veja o que lhe acontece. Da mesma forma, tente se revoltar contra a cadeia da servidão, tente não servir a ninguém. É impossível, você não conseguirá. Respirar é servir (servir a si mesmo e, portanto, a quem lhe ama), fazer as necessidades higiênicas é servir (você nem imagina a quantidade de seres que se beneficiam com isso) e até fazer o mal é servir (difícil de entender, mas a maldade pode servir de lição a quem precisa passar por esse aprendizado, como valorizar a liberdade, no caso dos criminosos presos).

Cada vez mais as pessoas se revoltam com o fato de terem que fazer coisas para os outros. Esquecem elas, por outro lado, que recebem diária e constantemente a servidão de outros. A revolta é apenas a demonstração da miopia em relação à realidade da vida. Se fossem sensatas, ao invés de se revoltar, decidiriam servir ainda mais. E isso parece ser o segredo do sucesso.

Procure alguém que você considere bem sucedido na vida. Veja qual foi o segredo do seu sucesso. Apesar de haver infinitas formas, todos os segredos de sucesso podem ser traduzidos em um só: SERVIR. E os melhores servidores são sempre os mais bem sucedidos. Entre os vendedores de sanduíches, o mais bem sucedido dele é o que consegue fazer o produto mais próximo possível do gosto dos clientes, com excelência no atendimento, a um preço considerado justo por todos e outras coisas mais que os outros não fazem.

Quem é o melhor médico? Aquele que cura ou o que o faz com encantamento dos seus pacientes? Quem é o melhor professor? Aquele que consegue fazer seus alunos aprender com satisfação e se destacar ou aquele que apenas faz de conta que ensina? Quem são os melhores pais? Aqueles que conseguem fazer seus filhos serem autônomos com gratidão ou aqueles que tomam seus rebentos como inimigos cruéis?

Não tem jeito: se queremos ter sucessos, temos que servir. Se queremos ter muito sucesso, temos que servir muito. Simples assim. Mas esse servir tem duas regras: uma em relação ao produto/serviço; outra, em relação às pessoas. A regra do serviço/produto é: entregue a ela o produto/serviço com os atributos necessários para suprir suas necessidades; a regra para as pessoas é: trate cada uma elas do jeito que você gostaria que fosse tratado.

Entregar às pessoas o que elas precisam para suprir suas necessidades da maneira que gostaríamos que fizessem com a gente é o grande segredo da vida. E isso é tão legal que tem um nome belo: AMAR. Servir é amar. Amar é servir. O amor não é um sentimento, como muita gente imagina. O amor é um ato, um agir.

A ignorância das pessoas as fazem confundir amor com paixão. Essa confusão pode ser facilmente detectada quando ocorrem assassinatos passionais (passional vem de paixão). Paixão significa exatamente isso: morte. Tanto é assim que a frase "Paixão de Cristo" pode e deve ser traduzida por "Morte de Cristo". É a paixão que mata. O amor é vida. E só é vida porque é resultado do servir.

E quem é o maior servidor? Por incrível que pareça, é aquele que tem maior capacidade de servir, que, por sua vez, é decorrente dos conhecimentos que detenha. Se eu sei lavar louças, posso servir lavando louças; se sei lavar privada, posso servir lavando privada; se sei matemática, posso servir ensinando matemática, construindo prédios ou orientando previsões; se sou cego, surdo e mudo, posso servir orando pelos outros. Quanto mais coisas eu sei fazer, maior é a minha possibilidade de ser grande servidor. Mas só serei efetivamente grande servidor quando todo esse estoque de conhecimentos forem efetivamente empregados para servir, para fazer o bem.

Por isso, para o nosso bem, devemos deixar de tanta bobagem que se faz e fala por aí. A cada segundo que não servimos perdemos inúmeras oportunidades de atrair para nós, em retribuição, os suprimentos de nossas necessidades. Estudemos, aprendamos, aumentemos nossos estoques de conhecimentos, de capacidade de servir, de fazer o bem. Não se irrite, não se entristeça, não se revolte, não sabote: aprenda e sirva. Em pouco tempo o sucesso vai lhe colocar no lugar que você sempre desejou. Sirva. Sirva hoje. Sirva agora. Sirva sempre.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Pensamento Crítico

Pensamento crítico é um termo popularizado e muito empregado, por mais paradoxal que seja, justamente por quem não consegue pensar criticamente. Ao confundir crítica com falar mal, as pessoas tendem a se expor criminalmente porque cometem calúnia, difamação e injúria ao invés de pensamento crítico. Por essa razão é necessário, primeiro, que se saiba o que é pensamento crítico, depois como se evidenciam os pensamentos críticos e, finalmente, o que fazer diante de pensamentos falsamente críticos.

Não é possível compreender a lógica do pensamento crítico, se não soubermos o que é crítica. Para sabermos o que é crítica, contudo, é necessário que se compreenda a palavra-matriz "crise". Crise é toda situação temporal, mediada pelo tempo, em que os valores de dois períodos convivem lado a lado. Os valores atuais das sociedades são diferentes dos valores das sociedades do passado. Para que os valores de um tempo tomem o lugar dos valores de um tempo futuro, pouco a pouco os valores do futuro vão substituindo os valores do passado. À medida que o tempo passa, alguns valores do passado desaparecem (muitos se transformam) e dão lugar a alguns valores do futuro. Quando, digamos, há uma quantidade mais ou menos igual de valores do tempo passado convivendo com os valores do tempo futuro é que aparece a crise.

É por isso que dizemos que crise é um lapso de tempo em que os valores do passado convivem com os valores do futuro. Esse lapso de tempo é o tempo presente, que ainda não é passado, mas também não é futuro (talvez passado e futuro não existam). Isso dá um nó na cabeça das pessoas porque elas não sabem em quem confiar, se nos valores do passado, se nos valores do futuro. Muitas vezes, quando se guiam pelos valores do passado, suas atitudes são bem aceitas, noutras vezes não são. O mesmo acontece no sentido oposto: algumas vezes, quando seguem os valores do futuro, são elogiadas, mas outras vezes não.

E o que isso tem a ver com crítico? Simples: ser crítico é, primeiro, saber que essa dinâmica existe (o passado dá lugar sempre ao futuro o tempo todo) e que ela está presente o tempo todo. Segundo, como essa dinâmica existe, pode ser aplicada a toda forma de expressão, todo discurso, toda atitude, todo pensamento! É que muitos pensamentos, quase sempre sem o saber, são elaborados com base na ideia de que o presente tem que perdurar para sempre ou que uma afirmativa ou ideia é verdadeira e a única verdade.

Vejamos isso mais de perto. Se as coisas mudam o tempo todo, se o tempo flui sempre do presente para o futuro, todas as coisas são submetidas à mudança. Pensar criticamente significa justamente isso: ter consciência, se capaz de demonstrar que as coisas são passageiras, estão sempre se aperfeiçoando, se alterando, mudando, enfim. Essa é a primeira vertente da ideia de pensamento crítico.

A segunda vertente é decorrente da primeira: se tudo muda o tempo todo, todo pensamento, toda ideia é apenas uma visão parcial daquilo que muda. Quando José diz que a causa da beleza feminina é o uso do batom, João mostra que o batom deixa as mulheres feias, Ana explica que o andar faz toda mulher bela e Maria demonstra que é o falar o motivo da beleza delas, aparentemente há contradição. No entanto, de fato, não há. As contradições, na realidade, são apenas ilusão daquelas pessoas que não conseguem encontrar lógica na diversidade das coisas.

Vamos dar um exemplo disso. Imagine um automóvel. Quem o vê de frente só consegue descrever a parte da frente - não consegue falar nada do que está do lado, atrás, em cima e embaixo. Quem está do lado esquerdo não consegue dizer qualquer coisa sobre a frente, o outro lado, a parte de trás, a parte de cima e a parte de baixo. O mesmo acontece com as pessoas que estão nas outras posições. Se a pessoa de trás disser que um automóvel é um objeto que tem duas luzes, uma vermelha e outra branca e a pessoa que está ao lado disser que um automóvel tem que apresentar duas portas com vidros deslizantes, aparentemente há contradição, mas, de fato, não há.

O que as pessoas sem pensamento crítico não sabem é que há múltiplas visões e explicações, todas verdadeiras, sobre a mesma coisa, sobre os mesmos fatos. As supostas contradições são ilusões, são demonstrações reais de que não conseguem raciocinar com as explicações dos outros para encontrar ordem no caos aparente.

Por que é importante o pensamento crítico? Simples: para não sermos levados pelo turbilhão de falsos sábios que pululam toda situação de crise. Sempre que há crises aparecem inúmeras pessoas querendo orientar os nossos pensamentos, ditar as nossas ações, controlar as nossas atitudes. E é muito fácil conhecê-las: são aquelas que não sabem ouvir, não conseguem dialogar, não conseguem raciocinar (estão dominadas por uma única ideia, o chamado monoideísmo, quase sempre falso conhecimento), se irritam com facilidade diante de fatos empíricos que derrubam suas falas.

Como são muitas, o que fazer diante dessas pessoas? Simples: apenas ouça. Nada fale. Aprenda com elas como é não ter pensamento crítico. Teste isso que está escrito aqui. Não perca a amizade, nem a família, nem o emprego, nem o controle emocional com isso. Apenas ouça. Falar não adianta: elas não ouvem. Argumentar não adianta, elas não entendem. Contestar é pior ainda, porque você pode fazer inimigos. Ouça-as, se não puder seguir em frente.

Entendendo a Crise

A crise é um fenômeno ainda muito pouco compreendido. E a consequência que esse desconhecimento traz é quase sempre perverso e se converte na geratriz de inúmeros problemas que agravam a vida individual e das coletividades. Isso confirma, mais uma vez, que a ignorância é a causa maior de todos os males e que a aprendizagem, por sua vez, configura-se em grande antídoto. Mas o que é crise?

A crise é apenas a convivência simultânea de dois conjuntos de valores. Um desses valores já foi preponderante no passado próximo, enquanto o outro se prepara para assumir a preponderância no futuro que se vislumbra no horizonte. Quem convive com esses dois conjuntos de valores não sabe qual usar para orientar suas condutas, suas crenças, sua cultura: se se aventura com os vislumbres ou continua a seguir os ditames pretéritos.

Os períodos de crise sinalizam, de forma inquestionável, o caráter mutante da vida, da natureza, do mundo. Sem as crises, tudo permaneceria como sempre. Crise significa alteração, mudança, renovação, esperança. Evidentemente que os que imaginam perder com as mudanças, além de se desesperarem, procurarão a todo custo conter o que está sendo mudado, enquanto os que consideram que terão alguma vantagem, procurarão acelerá-la, torná-la efetiva. Essa é dança da vida.

Os que desejam a perpetuação do presente estão errados? Efetivamente, não. Todos têm o direito de se apegar a tudo o que suas mentes sinalizam. Negar a cada um o direito de contestação é tão perverso quanto não a posição contrária, daqueles que querem a mudança efetiva. É preciso, portanto, entender essas diversas formas de ver e lidar com a crise, com os períodos críticos.

Os que desejam a mudança são perversos? Novamente a resposta é não. É bastante provável que suas posições relativa à aceitação e desejo que uma nova realidade se edifique seja decorrente da insatisfação em relação à realidade presente. O desejo de futuro muitas vezes é apenas a necessidade percebida de que o futuro pode ser mais promissor do que a realidade atual. Ainda que o presente seja interessante, a aposta no futuro pode sê-lo ainda mais.

Há sempre três conjuntos de forças agindo nos períodos de crise. A primeira é relativa àqueles que não querem mudança, que são justamente os beneficiados com a realidade presente e que vêem a mudança como perda de suas benesses; a segunda é a dos descontentes, que vêem na mudança a possibilidade de satisfação; e a terceira é a dos beneficiados que vêem nas mudanças mais aquisições de satisfações.

Dois conjuntos de forças se unem para que as mudanças se efetivem, pondo fim, temporariamente, à crise: a dos insatisfeitos e a dos que desejam mais benesses. É por isso que na maioria das vezes as mudanças se processam de forma mais veloz, quando essas forças se unem. Mas também, é digno que se perceba, que o que faz a mudança reduzir sua velocidade também é a convergência dos interesses de duas dessas forças, a dos que ganham com a situação presente e a dos que temem que o futuro lhes seja pior.

Essa dinâmica precisa ser compreendida por todos. Depois de compreendida, precisa ser testada, para aferir suas validade empírica, prática. Os interesses, em maior ou menor grau, é que determinam o esforço para mudar ou para não mudar. E esses interesses, que podem ser visíveis, estão vinculados a mentalidades, formas de pensamentos, que não são visíveis, mas que podem ser percebidos indiretamente, principalmente pelos discursos e ações humanas.

Os interesses e mentalidades fazem parte de todos, são elementos humanos intrínsecos. E não importa que seja preto, negro ou amarelo, alto ou baixo, portador ou não de necessidades especiais, estrangeiro ou compatriota. Aliás, quando alguém teima em dizer que os que desejam mudanças são a elite, maioria ou qualquer termo neste sentido ou está sendo desonesto ou está demonstrando seu desconhecimento da dinâmica das crises.

O fato é que as crises sempre representam um avançar no tempo, nas coisas, nas mentalidades, nas culturas, nas crenças. O tempo urge para diante, quer queiramos ou não. As coisas mudam para melhor sempre, se soubermos lidar com a dinâmica da crise para fazer o bem para nós e para os outros, ou para pior sempre, se resistirmos ao bem e focalizarmos ações prejudiciais a nós e aos demais.

A crise em si, portanto, não é boa, nem má. O que é bom, mau ou qualquer outro adjetivo que se lhe queira dar é apenas o nosso juízo de valor daquilo que faremos ou deixaremos de fazê-lo em relação às mudanças de valores que se processam. O mais adequado, portanto, é refletir sobre a realidade mutante para orientar nossas ações. E quanto mais benéficas forem elas, mais os ventos que chegam poderão nos beneficiar a todos. Afinal, somos a consequência das crises pretéritas, das mudanças que aconteceram. Se não houvesse crises, não existiríamos.

Desiguais

Talvez a igualdade seja o grande sonho da humanidade. Muitas comunidades chegaram a implementar relações igualitárias efetivas, ainda que, p...