sábado, 6 de julho de 2019

Primitivos e Civilizados

Conta-se que um executivo muito bem sucedido se desencantou com o enorme sucesso alcançado. De uma hora para outra, segundo os olhos da maioria, abandonou tudo e foi conviver com uma tribo indígena do alto Curuá, quase na fronteira com as Guianas. Ali chegando, muito comunicativo, ficou amigo de todos, principalmente dos caciques. Acostumado aos ambientes de alta liderança, se sentiu à vontade com a feliz situação de não se intrometer na vida da tribo.

Os primeiros dias lhe foram renovadores. Banhou-se nos inúmeros rios da região, aprendeu a caçar (sim, índio mata animais para comer), pescar, fazer ticujá para pegar pássaros. Com o passar dos anos, dominou a técnica da queimada das matas (sim, índio queima a mata também) para fazer as mesmas lavouras de sempre, principalmente o cultivo da mandioca.

O ex-administrador apenas observava. Livre das obrigatoriedades instintuais de anotações para compreender com profundidade cada processo, cada etapa de cada procedimento, cada componente de cada etapa de cada procedimento de cada processo, assistia à vida dos outros como se assiste a um filme. Mas os dias foram passando..

De uma hora para outra a caça pareceu se esgotar, os peixes sumiram, os pássaros já não mais sobrevoavam a comunidade e a terra pareceu se recusar a dar alimentos. Rompe Mato deve estar contrariado, pensava a maioria dos indígenas. Os chefes, aconselhados por um grupo de doze índios, tinham certeza disso.

O conselho era acionado nos períodos de crises semelhantes. Suas soluções consistiam no refazer e reaplicar as soluções que alguns aventureiros lhes recomendavam nas poucas vezes que algum deles aparecia por ali. Para validar as recomendações, consultavam os conselhos das duas tribos vizinhas, que adotavam o mesmo procedimento.

Chamou a atenção do forasteiro a adoção das mesmas medidas para problemas supostamente parecidos. A notoriedade de muitos conselheiros se devia justamente a isso: falar de cor cada detalhe da solução. O detalhamento era de ordem tão fantástica, que chegavam a se revezar por algumas semanas, segundo a segundo, minuto a minuto.

Quando faltavam peixes, alimentavam-se de outras fontes de proteína animal; se a terra se recusava a dar alimentos, a tribo se abstinha de seus frutos. Mas era a primeira vez que tudo faltava. Rompe Mato deveria realmente estar furioso. O que fazer? Não havia soluções para este problema nas memórias dos conselheiros.

Ainda não dominavam os esquemas de causa-efeito e tampouco a ideia de que as coisas têm uma lógica interna. Para cada problema que aparecia, consultavam seus vizinhos ou acolhiam as recomendações de forasteiros, muitos deles zombeteiros.

Diferentemente dos pagés, o conselho não se especializou em conselhos. Geralmente seus membros eram escolhidos dentre os voluntários. Como todo índio primitivo, quase sem contato com outras tribos e humanos, vivia para comer e comia para viver, como anotara o ex-executivo. Para que se preocupar com a gestão da tribo, se havia ali caciques, pagés e conselheiros?

Na prática, todo o futuro estava contido no passado, que se repetia continuamente todos os dias. O movimento circular, imperceptível até para o mais brilhante da tribo, parecia ser o máximo de felicidade e prosperidade que se poderia almejar. E todos os seus esforços eram direcionados justamente para que o passado se eternizasse na vivência do presente. Não sabiam disso. Suas ações é que eram a manifestação desse não saber.

Certa vez um forasteiro tentou lhes falar da "estupidez" desses procedimentos, mas foi violentamente repelido e obrigado a deixar a tribo, sob pena de ser esquartejado e comido (esses índios praticavam a antropofagia nestes casos, como forma de fazer desaparecer esse tipo de ameaça à normalidade tribal.). É que as soluções para os problemas (e todos os demais procedimentos) não deviam ser contestadas. Quando apresentadas, era para serem aplaudidas.

Depois de alguns anos, o citadino resolveu voltar para o seu habitat. O que aprendera lhe foi de uma riqueza imensurável e indizível para o retomar de suas atividades profissionais. Sua fortuna se avolumou magicamente em pouco tempo. De vez em quando ainda volta àquela tribo. Cada vez mais raramente...

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Razão Inversa

Nesses tempos de ódios exacerbados, chama a atenção o fato de algumas pessoas não perceberem que aquilo que elas fazem é exatamente o contrário daquilo que elas falam. Se fossem pessoas chamadas comuns, tudo bem. Mas são pessoas consideradas da elite intelectual do País que procedem dessa forma. O mais agravante é que elas não percebem essa dissonância, o que implica em admitir que o fazem inconscientemente. Como consequência, o que elas falam não é o que efetivamente elas acreditam, o que só nos resta admitir que o que fazem é o que realmente são.

Uma colega escreveu um texto de muito sucesso entre o público que se diz de esquerda. Ali, provava por A + B que a direita é intolerante. Não apenas intolerante, mas detinha como característica tudo o que é doença moral. O texto foi escrito com uma tonalidade tão raivosa, que muitas vezes não tive dúvida de que aquilo era uma autodescrição. A forma como todos os que não compartilhavam com as suas ideias eram tratados era tão aviltante que a intolerância parecia saltar do papel e morder quem o lia.

Li o texto, fiz algumas anotações e na primeira oportunidade conversei com ela. Senti que ela ficou triste quando eu lhe falei que o texto parecia muito raivoso. Fiquei feliz quando ela assentiu que estava com raiva quando o escreveu. Por isso eu mostrei que o texto era uma declaração explícita de intolerância. Para minha surpresa, a colega enraiveceu. Olhou para mim de cima a baixo, bufou e me disse que não estava me reconhecendo. Eu completei dizendo que ela não podia ser intolerante ao escrever defendendo a tolerância. Fui surpreendido com a afirmativa dela de que para defender a tolerância é necessário até ser intolerante. Calei.

Outro colega vivia defendendo nas suas aulas a necessidade da democracia em todos os espaços da vida humana associada. O problema é democracia para ele se resume a escolha. Basta as pessoas escolherem, que ele chama democracia. Seus alunos escolhem fazer trabalho ao invés de prova: isso é democracia, mesmo as notas sendo aferidas, para as meninas, com base no assédio moral e sexual; para os meninos, eram a subserviência. Suas práticas democráticas terminaram no dia em que o pai de uma das alunas assediadas tentou lhe matar e foi demitido.

Há quem chame a atenção dos filhos, quando falam palavrão, com palavrões mais tenebrosos ainda. E não percebem. Tem os que só faltam matar os filhos com agressões físicas apenas para lhes ensinar que não se deve bater nos outros. E não percebem. Há os corruptos que roubam milhões inúmeras vezes, mas ficam profundamente violentos quando descobrem que outros estão roubando. E não percebem. Outros cometem todo tipo de infração no trânsito com o filho do lado e os instruem dizendo que não façam aquilo. E não percebem.

Esses indivíduos estão cegos? São dementes? Não. Apenas os seus conhecimentos estão invertidos. Eles acham que é o que falam o que importa, não as suas ações. Eles não sabem o que é aprender e nem o que é saber. Eles acham que alguém sabe alguma coisa quando fala dessa coisa. Eles não sabem que isso não é saber. Eles confundem discurso com saber. Eles não sabem que saber é fazer.

Um indivíduo só sabe efetivamente alguma coisa se ele souber fazer alguma coisa com o que ele diz saber. Um indivíduo só sabe cozinhar, se ele realmente cozinhar alguma coisa. Uma pessoa só sabe andar de bicicleta, se ela montar em uma bicicleta e sair andando normalmente. Alguém só sabe escrever, se pegar caneta e papel e fizer um texto. É o que fazemos a comprovação do que sabemos. Não o discurso. No máximo, o discurso pode nos dar uma pista do que o outro pode vir a saber.

Voltando aos nossos amigos. Nossa colega não entende de tolerância porque ela não sabe ser tolerante, da mesma forma que a democracia, para o nosso colega, ficou apenas nos discursos antigos que ele memorizou. Como ele não teve a felicidade de aprender as coisas, imaginou que bastava falar que já estava praticando a coisa de que falava. Bastava falar de democracia e fazer as pessoas escolherem o tipo de prova que ele achava que estava sendo democrata. É como a pessoa, que sabendo que as mesas têm pernas e falando delas, já se imaginava como marceneiro.

Ser alguma coisa demora e dói muito. Andar de bicicleta demora e custa vários arranhões pelo corpo. Dói. Saber escrever também demora muito e custa muitas e muitas horas de sofrimento. Ser tolerante também demora. E, acredite, dói muito. Provavelmente teremos que sofrer por décadas para aprendermos a ser tolerantes. É preciso engolir a raiva, o preconceito, o ciúme, a inveja, as dores, o ódio e toda sorte de doença moral. Talvez seja necessário conviver com o déspota e o tirano, tolerando-o, para aprender a ser tolerante. Em outra postagem vou explicar por que isso é necessário.

Ser democrata talvez seja ainda mais doloroso e demorado. Talvez sejam necessárias várias gerações para que aprendamos a sê-lo. Democracia é governo do povo. E o que é governar, se não gerir, se não administrar? E o que é administrar? Administrar é planejar, organizar, dirigir e controlar recursos para alcançar os objetivos de toda uma comunidade. Pergunto eu: quem faz isso? Mais ainda: onde é que está a bendita eleição nisso tudo? Quem foi que disse que para haver democracia tem que haver eleição? Na Grécia, nosso grande modelo de democracia, não havia eleição. Os governantes eram sorteados. Sim. Se fosse hoje, pegaríamos os nomes de todos os cidadãos de uma comunidade e sortearíamos quem seriam os vereadores, o prefeito, os juízes, os promotores e todos os dirigentes.

Da mesma forma, só se ensina os outros a não falar palavrão, se nunca o falarmos. As pessoas só aprendem a não agredir fisicamente as outras, se elas não forem agredidas e não virem agressões no seu dia a dia. Um professor só defende de verdade a educação quando ele faz seus alunos aprenderem a viver bem, a serem felizes, a resolver seus próprios problemas, a amar os outros, a servir, da mesma forma que um indivíduo só poderá ser cidadão se cuidar da sua cidade, da sua casa, do seu quintal, de sua rua, de sua quadra.

Os dicionários dizem que aquelas pessoas que falam uma coisa e agem de forma diferente são chamadas de hipócritas. A hipocrisia é quando a pessoa, conscientemente, tenta fazer as pessoas acreditarem no que elas falam, sem perceberem que elas agem diferente. O hipócrita tenta induzir os outros ao erro. O mundo de hoje está cheio de gente assim, em todos os lugares, sem exceção.

Se é assim, muitos podem pensar, então como identificar o indivíduo digno? Simples: veja sua ação. Não ligue para o que as pessoas falam. Veja o que elas fazem. É que as pessoas dignas não são de fazer muitos discursos porque sabem que os discursos são vazios, se  não há ação. As pessoas dignas agem. Veja no seu trabalho. Aqueles que fazem bem as coisas, não ficam se gabando. Aqueles que são democratas não vivem tentando convencer os outros. Aqueles que fazem o bem não ficam falando mal dos outros.

Se você tirar sua atenção do que as pessoas falam e focalizar o que elas fazem, não tenho dúvida: você verá as pessoas um pouquinho mais parecidas como elas realmente são. Mas, cuidado. Você pode se assustar.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

O Mais Poderoso

Durante toda a história da humanidade nos transmitiram a ideia de que o poder é a capacidade de influência que A exerce sobre B para que B faça coisas que, sem essa influência, jamais faria. O homem de corpo avantajado teria mais poder que o franzino, porque poderia utilizar sua influência física (coercitiva, melhor dizendo) para obrigar o outro a lhe obedecer, como fazem muitos chefes de narcotráficos. O chefão da minha empresa tem poder sobre mim porque eu assinei um documento dizendo que eu o obedeceria todas as vezes que ele quisesse que um dos itens de uma lista de responsabilidades minhas fosse executado, poder esse que apelidamos de racional-legal. Esse tipo de poder tem inúmeros outras fontes, além da força física e da lei, como a beleza física, a riqueza material e o conhecimento. Mas parece que as coisas não são bem assim. É provável que isso não seja poder.

O conhecimento que vários campos do conhecimento, especialmente os relacionados ao cérebro, à psique e à espiritualidade, parecem indicar o contrário. Não seria a capacidade de influência a evidência empírica do poder, mas um fenômeno quase insignificante de tão simplório: o servir. Essa concepção é tão revolucionária que uma máxima simples pode ser constituída: Tem mais poder quem mais serve ou o mais poderoso é o maior servidor.

Vários motivos concorrem para essa concepção revolucionária. A primeira é que a subjugação não é o fenômeno predominante no universo para a edificação do equilíbrio que subjaz a tudo. Aquele que subjuga demonstra não poder, mas infantilidade justamente pela sua incapacidade de se relacionar de forma dialógica. O subjugador não é, propriamente, um sujeito pleno, porque lhe faltam conhecimentos e habilidades de compreensão e construção de consenso.

A segunda constatação é decorrente justamente do desequilíbrio de forças. A assimetria de poder é perigosa. O subjugado pode se transformar em traidor. A subjugação pode esconder, por baixo da disciplina e da obediência, um provável inimigo. Como advertiu Maquiavel, daquele que nos ama não esperamos qualquer ação nociva, ainda mais quando esse amor é falso, aparente.

A terceira demonstração é que os avanços civilizatórios não se faz com subjugação, mas com autonomias interdependentes de sujeitos. Imaginamos equivocadamente que as guerras é que fazem os progressos. Não é verdade. As guerras são consequências justamente do predomínio da mentalidade do poder como subjugação e elas terminam justamente quando grupos se unem em relações mais ou menos simétricas para fazer frente aos grupos que lutam pela assimetria. É a união que provoca a paz; a desunião a desfaz.

Outros motivos há para desconfiar dessa herança de mentalidade que coloca a influência como origem do poder. Mas vamos ficar com apenas esses três porque são os mais evidentes e os mais fáceis de servir de reflexão nas nossas práticas cotidianas e históricas.

Parece que a maior demonstração de poder é a capacidade de alguém em fazer coisas. E quanto mais encantadoras e maravilhosas essas coisas, maior é o poder que esse indivíduo detém. E se essas coisas proporcionarem a felicidade e o bem estar de alguém, mais louvável parece ser esse poder. E se essas ações beneficiarem e forem admiradas por um número muito grande pessoas, certamente essa pessoa poderá ser considerada poderosa.

A capacidade de agir no bem, como demonstram os ditames da contemporaneidade, é o que marca a essência do poder. E agir no bem tem uma evidência empírica incontestável: é sempre dirigida para benefício de outro. Agir no bem é uma ação de alteridade, visa ao outro, o benefício de outrem. E agir em benefício do outro é servir.

Fazer coisas é consequência do saber. Se alguém sabe lavar pratos e lava os pratos para alguém, faz o bem para esse alguém; se sabe promover a paz entre as pessoas e efetivamente torna inimigos amigos, todas as vezes que o faz está fazendo o bem, está servindo. A cada coisa que se saiba fazer e que se faz em proveito do outro, estará sempre sendo exemplo dessa visão sobre o poder.

Há indivíduos, portanto, que sabem fazer muito poucas coisas. Muitos são até geniais nas únicas coisas que sabem fazer, como os jogadores de futebol e enxadristas; outros sabem fazer muitas coisas, muitas mesmo, desde limpar privadas e cozinhar a cálculos complexos de matemática e esquemas complicadíssimos de explicações científicas. Quanto mais coisas alguém sabe fazer, maior é o seu potencial de fazer o bem, maior a probabilidade de ter poder.

Uma coisa é saber fazer, outra é fazer. Sei andar de bicicleta, mas não pratico há décadas. Há quem saiba consolar as pessoas, mas fazem essa prática apenas raramente. Mas todas as vezes que alguém pratica o que sabe em benefício de outro estará demonstrando poder, ainda que o beneficiado não valorizar o bem recebido (e isso é muito corriqueiro). Poder de fazer. Poder de servir. Poder de ser acionado sempre que necessário.

O indivíduo poderoso, portanto, não é o que subjuga os outros. Quem subjuga provavelmente só sabe fazer isso: subjugar. Aquele que age de formas variadas para produzir o bem, que tem grande estoque de conhecimentos e os utiliza efetivamente quase sempre, tem um poder de mobilização, influência, referência, atenção, consideração e uma série de características subjetivas que lhe são benéficas que lhe transformam em pessoa muito poderosa. Muito mais poderosa do que quem tem o poder de influência. Aliás, o poder do bem influencia até quem tem o poder de influência. É muito mais poderoso

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Visão Limitada

Se tem uma coisa que pode ser considerada natural em todos os seres humanos é a sua limitada capacidade de ver e perceber as coisas. Somos imperfeitos. E a principal característica da imperfeição é justamente a nossa limitação. No entanto, ao invés disso ser visto como algo triste ou ruim, representa também um desafio que podemos nos colocar, que é o de ampliar os nossos limites. Isso é mais uma confirmação de que tudo o que se nos apresenta como algo ruim, de fato, não o é. Ser limitado, portanto, é a sinalização de que podemos nos ampliar. E ao realizar a ampliação, podemos ver e perceber melhor.

Meu filho de cinco anos fez recentemente duas grandes descobertas. Primeiro ele descobriu que toda conta de subtração parte do todo para as partes. Diminuir é retirar certa quantidade de um todo. Por exemplo: se tenho 15 laranjas e retiro 10, sobram 5. Ele ficou maravilhado com o esquema lógico: as coisas diminuem de tamanho porque perdem suas partes. Na verdade, não é bem uma perda, mas uma distribuição, uma forma de divisão, compartilhamento, como certamente ele descobrirá mais tarde.

A segunda descoberta foi no sentido contrário: somar começa com as partes e termina com o todo. Ele descobriu isso todo feliz ao ver que as 8 pedras de dominó que tinha nas mãos se transformaram em 12, quanto sua irmãzinha de 3 anos lhe deu as 4 que estava segurando. Ele tinha uma parte das pedras e sua irmãzinha outra parte. Quando juntaram suas partes, formou-se um todo, muito parecido com o todo das contas de subtração, que ele aprendera antes. Somar é crescer, descobriu entusiasmado.

Sua irmãzinha ainda não consegue raciocinar nesse nível de abstração. Ela só consegue ver as pedras que tem nas mãos ou nas mãos do irmão. Está impossibilitada, ainda, de ver a soma delas. Não tem ideia de todo e de partes. Sua visão está restrita apenas às partes (que é o mesmo que dizer o todo que cada parte, sozinha, representa). É só isso que ela percebe, por enquanto.

O que minhas duas crianças estão aprendendo é o segredo das coisas. Um segredo muito profundo que, infelizmente, poucos pais têm condições de compartilhar com seus filhos justamente porque lhes falta esse tipo de visão. Isso não quer dizer, contudo, que não compartilhem seus segredos, suas outras visões com seus filhos. Estou apenas querendo dizer que essas coisas complicadas são de consciência (que é a percepção ampliada e aprofundada) de poucas pessoas no planeta terra, de tão difícil que é compreender.

E o segredo é: tudo na vida tem diferentes formas de estar certo. Veja alguns exemplos. Se tenho 10 laranjas e dou 5, fico com 5. Se tenho 8 bananas e dou 3, me restam 5. Se tenho 30/3 de melancias e dou 15/3, fico com 5 melancias. Portanto, há infinitas formas de chegar ao mesmo resultado: 5 objetos.

O mesmo acontece com qualquer coisa. Digamos que quero saber como resolver o problema do analfabetismo. Faço meu estudo e demonstro minha solução a partir do caminho A. Outro cientista, com o mesmo intuito, demonstra que o caminho B é tão viável quanto o meu, apesar de seu caminho ser contrário ao meu. Ele está errado? Estou certo? Não. Cada destino, cada chegada, cada objetivo apresenta inúmeras possibilidades de ser alcançado.

Vejamos outro exemplo. Tem gente que acha que a filosofia do autor Alfa é a mais humana que existe, por n motivos, mas há quem considere que a filosofia de Beta é que é a mais humana, por z motivos, da mesma forma que muitos acham que é a filosofia de Gama a mais humana, pelos motivos y. Só que tem um porém: cada filosofia é contrária às outras. Estão todos errados? Não.

Os fatos e fenômenos do mundo apresentam inúmeras nuances, de maneira que cada indivíduo consegue ver apenas uma delas, isoladamente. É como olhar um automóvel. Quem está na esquerda não consegue ver o que está na frente, atrás e na direita, nem embaixo e nem em cima. Quem está embaixo do carro não consegue ver o que as pessoas que estão na esquerda, direita, na frente, atrás e em cima veem. E todas elas veem coisas diferentes uma das outras. Elas estão erradas? Não. Todas descrevem verdadeiramente o que existe. A diferença é apenas a perspectiva.

Muitos de nossos cientistas e filósofos (e praticamente todo o restante da população do planeta) parecem nem desconfiar disso. Ficam na infantilidade de imaginar que o que veem é o todo e que o que os outros veem não existe, é fantasia, ilusão. É isso o que se chama arrogância: achar que o que veem é a única verdade; prepotência é querer enfiar goela abaixo essa visão monolítica e limitada das coisas.

Pessoas com visões monolíticas não aceitam as visões discordantes dos outros. São ainda tão limitadas que é preciso muita paciência para lidar com elas. Diferentemente da forma como tratam os outros, precisamos, ao lidar com elas, compreender suas limitações. Não carecem de desprezo, porque desprezo é coisa de quem tem visão limitada. Precisam de carinho e compreensão, esses dois ingredientes fundamentais para ampliar a nossa visão limitada.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Servir

Nesses tempos de intolerância e orgulho profundo, falar de servir parece antiquado. Parece, mas não é. Tanto que as grandes empresas e governos eficientes em todo o mundo estão voltando suas ações para esse verbinho. Não faz muito tempo que pessoas no mundo todo se revoltaram contra ele. Aliás, ainda hoje, a maioria das pessoas imagina que servir se opõe a liberdade. Vamos mostrar aqui que isso não passa de ilusão. Servir é a razão da vida. Só que essa razão tem outro nome, nome esse que quase todos, equivocadamente, relacionam a futilidade. Vamos por parte.

Em sentido amplo, servir é sinônimo de suprimento de necessidade. Quando alguém necessita de alguma coisa, dá origem às oportunidades de suprimento. Todas as vezes que alguém que tem suas necessidades supridas, portanto, esse ato designamos de servir. É por isso que o garçom nos serve, ao suprir nossa necessidade de alimentação; o médico nos serve, suprindo nossa necessidade de saúde; os livros nos servem, suprindo nossas necessidades de informação e conhecimento; os professores nos servem, suprindo com conhecimentos.

O solo serve as árvores, suprindo-lhe as necessidades de nutrientes; as raízes das árvores servem às outras partes, distribuindo os nutrientes; árvore supre os pássaros, seres humanos e insetos, dando-lhes frutos e néctares, que em troca lhes dão cuidados e espalham suas sementes e pólens. Cadeias como essas acontecem no mundo todo, o tempo todo, ainda que a maioria dos indivíduos envolvidos nelas não tenham consciência disso.

Se olharmos as coisas com mais atenção, veremos que a servidão (é esse mesmo o termo adequado) se espalha pelo universo. Tudo está conectado em uma infinita rede de servir. E isso parece ser uma lei universal que existe para o nosso próprio bem e de tudo aquilo que existe no universo. Tudo, portanto, serve e é servido. Se houvesse algo que existisse e não fosse servido e também não servisse, em pouco tempo provavelmente desapareceria. Tudo o que existe, então, cumpre algum papel nessa infinita teia do servir.

Algumas pessoas, extremamente ignorantes, tentam ser servidos sem servir. Algumas delas juram que conseguem ou que conseguiram esse feito alguma vez. Mas isso é mera ilusão. Nada acontece fora dessa relação de servir e ser servido. Não há quem apenas sirva, da mesma forma que não há quem apenas seja servido. Ainda o tirano, que imagina que não serve a ninguém, de fato não sabe a quem serve, porque a verdade é que ele fazer sua servidão.

Para surpresa de muitos, todas as vezes que teimamos sair dessa cadeia do servir, temos problemas. Tente ficar sem fazer nada, absolutamente nada, e veja o que lhe acontece. Da mesma forma, tente se revoltar contra a cadeia da servidão, tente não servir a ninguém. É impossível, você não conseguirá. Respirar é servir (servir a si mesmo e, portanto, a quem lhe ama), fazer as necessidades higiênicas é servir (você nem imagina a quantidade de seres que se beneficiam com isso) e até fazer o mal é servir (difícil de entender, mas a maldade pode servir de lição a quem precisa passar por esse aprendizado, como valorizar a liberdade, no caso dos criminosos presos).

Cada vez mais as pessoas se revoltam com o fato de terem que fazer coisas para os outros. Esquecem elas, por outro lado, que recebem diária e constantemente a servidão de outros. A revolta é apenas a demonstração da miopia em relação à realidade da vida. Se fossem sensatas, ao invés de se revoltar, decidiriam servir ainda mais. E isso parece ser o segredo do sucesso.

Procure alguém que você considere bem sucedido na vida. Veja qual foi o segredo do seu sucesso. Apesar de haver infinitas formas, todos os segredos de sucesso podem ser traduzidos em um só: SERVIR. E os melhores servidores são sempre os mais bem sucedidos. Entre os vendedores de sanduíches, o mais bem sucedido dele é o que consegue fazer o produto mais próximo possível do gosto dos clientes, com excelência no atendimento, a um preço considerado justo por todos e outras coisas mais que os outros não fazem.

Quem é o melhor médico? Aquele que cura ou o que o faz com encantamento dos seus pacientes? Quem é o melhor professor? Aquele que consegue fazer seus alunos aprender com satisfação e se destacar ou aquele que apenas faz de conta que ensina? Quem são os melhores pais? Aqueles que conseguem fazer seus filhos serem autônomos com gratidão ou aqueles que tomam seus rebentos como inimigos cruéis?

Não tem jeito: se queremos ter sucessos, temos que servir. Se queremos ter muito sucesso, temos que servir muito. Simples assim. Mas esse servir tem duas regras: uma em relação ao produto/serviço; outra, em relação às pessoas. A regra do serviço/produto é: entregue a ela o produto/serviço com os atributos necessários para suprir suas necessidades; a regra para as pessoas é: trate cada uma elas do jeito que você gostaria que fosse tratado.

Entregar às pessoas o que elas precisam para suprir suas necessidades da maneira que gostaríamos que fizessem com a gente é o grande segredo da vida. E isso é tão legal que tem um nome belo: AMAR. Servir é amar. Amar é servir. O amor não é um sentimento, como muita gente imagina. O amor é um ato, um agir.

A ignorância das pessoas as fazem confundir amor com paixão. Essa confusão pode ser facilmente detectada quando ocorrem assassinatos passionais (passional vem de paixão). Paixão significa exatamente isso: morte. Tanto é assim que a frase "Paixão de Cristo" pode e deve ser traduzida por "Morte de Cristo". É a paixão que mata. O amor é vida. E só é vida porque é resultado do servir.

E quem é o maior servidor? Por incrível que pareça, é aquele que tem maior capacidade de servir, que, por sua vez, é decorrente dos conhecimentos que detenha. Se eu sei lavar louças, posso servir lavando louças; se sei lavar privada, posso servir lavando privada; se sei matemática, posso servir ensinando matemática, construindo prédios ou orientando previsões; se sou cego, surdo e mudo, posso servir orando pelos outros. Quanto mais coisas eu sei fazer, maior é a minha possibilidade de ser grande servidor. Mas só serei efetivamente grande servidor quando todo esse estoque de conhecimentos forem efetivamente empregados para servir, para fazer o bem.

Por isso, para o nosso bem, devemos deixar de tanta bobagem que se faz e fala por aí. A cada segundo que não servimos perdemos inúmeras oportunidades de atrair para nós, em retribuição, os suprimentos de nossas necessidades. Estudemos, aprendamos, aumentemos nossos estoques de conhecimentos, de capacidade de servir, de fazer o bem. Não se irrite, não se entristeça, não se revolte, não sabote: aprenda e sirva. Em pouco tempo o sucesso vai lhe colocar no lugar que você sempre desejou. Sirva. Sirva hoje. Sirva agora. Sirva sempre.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Pensamento Crítico

Pensamento crítico é um termo popularizado e muito empregado, por mais paradoxal que seja, justamente por quem não consegue pensar criticamente. Ao confundir crítica com falar mal, as pessoas tendem a se expor criminalmente porque cometem calúnia, difamação e injúria ao invés de pensamento crítico. Por essa razão é necessário, primeiro, que se saiba o que é pensamento crítico, depois como se evidenciam os pensamentos críticos e, finalmente, o que fazer diante de pensamentos falsamente críticos.

Não é possível compreender a lógica do pensamento crítico, se não soubermos o que é crítica. Para sabermos o que é crítica, contudo, é necessário que se compreenda a palavra-matriz "crise". Crise é toda situação temporal, mediada pelo tempo, em que os valores de dois períodos convivem lado a lado. Os valores atuais das sociedades são diferentes dos valores das sociedades do passado. Para que os valores de um tempo tomem o lugar dos valores de um tempo futuro, pouco a pouco os valores do futuro vão substituindo os valores do passado. À medida que o tempo passa, alguns valores do passado desaparecem (muitos se transformam) e dão lugar a alguns valores do futuro. Quando, digamos, há uma quantidade mais ou menos igual de valores do tempo passado convivendo com os valores do tempo futuro é que aparece a crise.

É por isso que dizemos que crise é um lapso de tempo em que os valores do passado convivem com os valores do futuro. Esse lapso de tempo é o tempo presente, que ainda não é passado, mas também não é futuro (talvez passado e futuro não existam). Isso dá um nó na cabeça das pessoas porque elas não sabem em quem confiar, se nos valores do passado, se nos valores do futuro. Muitas vezes, quando se guiam pelos valores do passado, suas atitudes são bem aceitas, noutras vezes não são. O mesmo acontece no sentido oposto: algumas vezes, quando seguem os valores do futuro, são elogiadas, mas outras vezes não.

E o que isso tem a ver com crítico? Simples: ser crítico é, primeiro, saber que essa dinâmica existe (o passado dá lugar sempre ao futuro o tempo todo) e que ela está presente o tempo todo. Segundo, como essa dinâmica existe, pode ser aplicada a toda forma de expressão, todo discurso, toda atitude, todo pensamento! É que muitos pensamentos, quase sempre sem o saber, são elaborados com base na ideia de que o presente tem que perdurar para sempre ou que uma afirmativa ou ideia é verdadeira e a única verdade.

Vejamos isso mais de perto. Se as coisas mudam o tempo todo, se o tempo flui sempre do presente para o futuro, todas as coisas são submetidas à mudança. Pensar criticamente significa justamente isso: ter consciência, se capaz de demonstrar que as coisas são passageiras, estão sempre se aperfeiçoando, se alterando, mudando, enfim. Essa é a primeira vertente da ideia de pensamento crítico.

A segunda vertente é decorrente da primeira: se tudo muda o tempo todo, todo pensamento, toda ideia é apenas uma visão parcial daquilo que muda. Quando José diz que a causa da beleza feminina é o uso do batom, João mostra que o batom deixa as mulheres feias, Ana explica que o andar faz toda mulher bela e Maria demonstra que é o falar o motivo da beleza delas, aparentemente há contradição. No entanto, de fato, não há. As contradições, na realidade, são apenas ilusão daquelas pessoas que não conseguem encontrar lógica na diversidade das coisas.

Vamos dar um exemplo disso. Imagine um automóvel. Quem o vê de frente só consegue descrever a parte da frente - não consegue falar nada do que está do lado, atrás, em cima e embaixo. Quem está do lado esquerdo não consegue dizer qualquer coisa sobre a frente, o outro lado, a parte de trás, a parte de cima e a parte de baixo. O mesmo acontece com as pessoas que estão nas outras posições. Se a pessoa de trás disser que um automóvel é um objeto que tem duas luzes, uma vermelha e outra branca e a pessoa que está ao lado disser que um automóvel tem que apresentar duas portas com vidros deslizantes, aparentemente há contradição, mas, de fato, não há.

O que as pessoas sem pensamento crítico não sabem é que há múltiplas visões e explicações, todas verdadeiras, sobre a mesma coisa, sobre os mesmos fatos. As supostas contradições são ilusões, são demonstrações reais de que não conseguem raciocinar com as explicações dos outros para encontrar ordem no caos aparente.

Por que é importante o pensamento crítico? Simples: para não sermos levados pelo turbilhão de falsos sábios que pululam toda situação de crise. Sempre que há crises aparecem inúmeras pessoas querendo orientar os nossos pensamentos, ditar as nossas ações, controlar as nossas atitudes. E é muito fácil conhecê-las: são aquelas que não sabem ouvir, não conseguem dialogar, não conseguem raciocinar (estão dominadas por uma única ideia, o chamado monoideísmo, quase sempre falso conhecimento), se irritam com facilidade diante de fatos empíricos que derrubam suas falas.

Como são muitas, o que fazer diante dessas pessoas? Simples: apenas ouça. Nada fale. Aprenda com elas como é não ter pensamento crítico. Teste isso que está escrito aqui. Não perca a amizade, nem a família, nem o emprego, nem o controle emocional com isso. Apenas ouça. Falar não adianta: elas não ouvem. Argumentar não adianta, elas não entendem. Contestar é pior ainda, porque você pode fazer inimigos. Ouça-as, se não puder seguir em frente.

Entendendo a Crise

A crise é um fenômeno ainda muito pouco compreendido. E a consequência que esse desconhecimento traz é quase sempre perverso e se converte na geratriz de inúmeros problemas que agravam a vida individual e das coletividades. Isso confirma, mais uma vez, que a ignorância é a causa maior de todos os males e que a aprendizagem, por sua vez, configura-se em grande antídoto. Mas o que é crise?

A crise é apenas a convivência simultânea de dois conjuntos de valores. Um desses valores já foi preponderante no passado próximo, enquanto o outro se prepara para assumir a preponderância no futuro que se vislumbra no horizonte. Quem convive com esses dois conjuntos de valores não sabe qual usar para orientar suas condutas, suas crenças, sua cultura: se se aventura com os vislumbres ou continua a seguir os ditames pretéritos.

Os períodos de crise sinalizam, de forma inquestionável, o caráter mutante da vida, da natureza, do mundo. Sem as crises, tudo permaneceria como sempre. Crise significa alteração, mudança, renovação, esperança. Evidentemente que os que imaginam perder com as mudanças, além de se desesperarem, procurarão a todo custo conter o que está sendo mudado, enquanto os que consideram que terão alguma vantagem, procurarão acelerá-la, torná-la efetiva. Essa é dança da vida.

Os que desejam a perpetuação do presente estão errados? Efetivamente, não. Todos têm o direito de se apegar a tudo o que suas mentes sinalizam. Negar a cada um o direito de contestação é tão perverso quanto não a posição contrária, daqueles que querem a mudança efetiva. É preciso, portanto, entender essas diversas formas de ver e lidar com a crise, com os períodos críticos.

Os que desejam a mudança são perversos? Novamente a resposta é não. É bastante provável que suas posições relativa à aceitação e desejo que uma nova realidade se edifique seja decorrente da insatisfação em relação à realidade presente. O desejo de futuro muitas vezes é apenas a necessidade percebida de que o futuro pode ser mais promissor do que a realidade atual. Ainda que o presente seja interessante, a aposta no futuro pode sê-lo ainda mais.

Há sempre três conjuntos de forças agindo nos períodos de crise. A primeira é relativa àqueles que não querem mudança, que são justamente os beneficiados com a realidade presente e que vêem a mudança como perda de suas benesses; a segunda é a dos descontentes, que vêem na mudança a possibilidade de satisfação; e a terceira é a dos beneficiados que vêem nas mudanças mais aquisições de satisfações.

Dois conjuntos de forças se unem para que as mudanças se efetivem, pondo fim, temporariamente, à crise: a dos insatisfeitos e a dos que desejam mais benesses. É por isso que na maioria das vezes as mudanças se processam de forma mais veloz, quando essas forças se unem. Mas também, é digno que se perceba, que o que faz a mudança reduzir sua velocidade também é a convergência dos interesses de duas dessas forças, a dos que ganham com a situação presente e a dos que temem que o futuro lhes seja pior.

Essa dinâmica precisa ser compreendida por todos. Depois de compreendida, precisa ser testada, para aferir suas validade empírica, prática. Os interesses, em maior ou menor grau, é que determinam o esforço para mudar ou para não mudar. E esses interesses, que podem ser visíveis, estão vinculados a mentalidades, formas de pensamentos, que não são visíveis, mas que podem ser percebidos indiretamente, principalmente pelos discursos e ações humanas.

Os interesses e mentalidades fazem parte de todos, são elementos humanos intrínsecos. E não importa que seja preto, negro ou amarelo, alto ou baixo, portador ou não de necessidades especiais, estrangeiro ou compatriota. Aliás, quando alguém teima em dizer que os que desejam mudanças são a elite, maioria ou qualquer termo neste sentido ou está sendo desonesto ou está demonstrando seu desconhecimento da dinâmica das crises.

O fato é que as crises sempre representam um avançar no tempo, nas coisas, nas mentalidades, nas culturas, nas crenças. O tempo urge para diante, quer queiramos ou não. As coisas mudam para melhor sempre, se soubermos lidar com a dinâmica da crise para fazer o bem para nós e para os outros, ou para pior sempre, se resistirmos ao bem e focalizarmos ações prejudiciais a nós e aos demais.

A crise em si, portanto, não é boa, nem má. O que é bom, mau ou qualquer outro adjetivo que se lhe queira dar é apenas o nosso juízo de valor daquilo que faremos ou deixaremos de fazê-lo em relação às mudanças de valores que se processam. O mais adequado, portanto, é refletir sobre a realidade mutante para orientar nossas ações. E quanto mais benéficas forem elas, mais os ventos que chegam poderão nos beneficiar a todos. Afinal, somos a consequência das crises pretéritas, das mudanças que aconteceram. Se não houvesse crises, não existiríamos.

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