terça-feira, 27 de agosto de 2019

Sorrisos

Pouca gente dá importância para o sorriso, mas dificilmente alguém consegue se livrar dos laços energéticos do bem que ele irradia. Muita gente diz, com acerto, que o sorriso é a porta (ou janela) da alma. Se já tivéssemos olhos de ver, como dizem as escrituras, perceberíamos, no mínimo, uma tênue luz levemente azulada a envolver todo o corpo físico dos indivíduos que vivem com sorriso no rosto.

Isso não quer dizer que vivam sorrindo. Ainda que estejam chorando, vêem-se com nitidez traço de sorrisos em suas fisionomias. A razão disso é que o corpo físico apenas expressa o que o corpo espiritual contém. Se o corpo espiritual sofre, a expressão física é de sofrimento; se sorri, o sorriso fica estampado no rosto em quaisquer circunstâncias.

É fundamental, contudo, não confundir sorriso com riso ou achar graça. Esses dois são expressões de contentamentos temporários, efêmeros, passageiros. Acontecem quando ouvimos uma piada ou nos deparamos com alguma situação engraçada. Achar graça ou rir é consequência da emotividade do corpo. Sorrir, não.

O sorriso é o encantamento da alma. E jamais é passageiro. É que a alma, quando alcançou determinado nível de elevação, consegue ver com nitidez a beleza divina em tudo com o que se depara. A alma não vê apenas com os olhos. Todo o corpo espiritual é capaz de, simultaneamente, captar todos os diversos sentidos físicos e os inúmeros sentidos extrafísicos, que nós, revestidos de corpos de carne, não conseguimos experimentar.

O êxtase é o encantamento da alma. É o mesmo que epifania. A diferença é que esta é passageira, enquanto aquele é permanente. O que significa que praticamente todos os indivíduos que ainda estão prisioneiros do corpo físico, em algum momento da vida, já tiveram o gostinho do estado permanente de felicidade que os espíritos evoluídos já alcançaram.

Evolução é, portanto, a palavra-chave. E no sentido pleno significa se despojar de tudo o que aprisiona. E o meio através do qual isso acontece não é outro que não seja o conhecimento. Conhecimento dos segredos da vida, do mundo, da alma. Por isso que jamais devemos confundir conhecimento com escolaridade. Tanto é assim que há incontáveis doutores que pouco sabem, de maneira que dezenas de anos de estudos não foram suficientes para lhes acrescentar uma pequena fagulha de sorriso nos seus tristes rostos.

O conhecimento que leva à evolução se materializa no verbo servir. É a servilitude (não confundir com servidão) que faz com que o indivíduo aprenda cada vez mais formas de servir. E aprender quer dizer estudar, testar, comprovar a eficiência e a eficácia do que foi aprendido, primeiro nele mesmo, para depois ajudar aos outros. Como consequência, o indivíduo que sorri é humilde.

E humildade é justamente o reconhecimento de que se sabe muito, mas esse muito não é suficiente para que sirva a todos que precisam de ajuda. Isso gera uma série de consequências, como a impossibilidade do indivíduo que sorri em julgar quem quer que seja, imputar aos outros quaisquer responsabilidades, ainda que a razão leve a isso, como nos casos dos crimes bárbaros. É humilde porque reconhece que já foi assim um dia e que não é fácil se libertar da animalidade que mata.

Quem coloca a culpa nos outros é triste e precisa de ajuda. E é em momentos como esse que o indivíduo que sorri chora. Foi o que aconteceu com Cristo, por exemplo, que chorou o que seus algozes estavam fazendo com eles mesmos ao imolarem-no na cruz. A dor física e a injustiça são irrelevantes diante de tantas dívidas que os outros terão que pagar a si mesmos um dia. Os indivíduos que sorriem choram a chegada da conta futura.

E isso lhes faz excelentes conselheiros. Excelentes conselheiros jamais são críticos. Crítica, aliás, é algo que não faz mais parte nem do pensamento e nem das atitudes das almas elevadas. Eles são amorosos. Quem é crítico não consegue amar porque são prisioneiros de um egoísmo tão profundo que não lhes permite ver e nem reconhecer suas ignorâncias. Não têm saber, têm crenças. Crença tão monoideísta que a única coisa que dizem saber é que a crítica tem que ser praticada. E quem critica não consegue obter a intimidade necessária aos aconselhamentos.

Como já percorreram uma distância muito superior aos seus irmãos de convívio, os indivíduos que sorriem sabem que a estrada tem muitos perigos. E sabem, acima de tudo, que os perigos são arquitetados por nós mesmos. Para que não sucumbissem no passado, obtiveram ajuda de inúmeros irmãos de caminhada e de benfeitores que fizeram o caminho de volta para ajudar. E a cada vez que presenciam esses atos de amor, sorriem.

Sorriem para o nascer do dia e a infinidade de cores que a luz do sol traz, mas também sorriem para as entidades da noite e a necessidade do repouso. Sorriem a graça da vida, assim como sorriem o fim da vida carnal, porque sabem que o espírito é imortal. A morte é apenas a volta para casa depois de uma curta temporada por aqui. Sorriem porque vêem em tudo a mão amorosa de Deus.

E quando você encontrar por aí com alguém com um sorriso permanente no rosto, aprecie-no. Você estará na frente de alguém com quem vale a pena a proximidade física por alguns instantes. Não fique muito tempo, não conviva com ele. É provável que você não o suporte. Eles são como espelho: refletem o que somos.

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