sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Vai e Faz

Juma ficava irritada todas as vezes que chegava ao escritório e copos estavam sobre a sua mesa. Seu sócio, quando recebia clientes e ficava várias horas após o expediente trabalhando, quase sempre os deixava por lá nas poucas vezes em que trabalhava até mais tarde. Juma ficava possessa. Será que ele não percebia que aquela não era uma atitude adequada?

João por vários dias brigou com a esposa por causa das roupas de cama com um cheiro suspeito. Era provável, imaginava ele, que algum de seus filhos pequenos tivesse feito xixi e vazado da fralda na cama. Mas não compreendia por que a mãe não as retirava e as colocava para lavar. Será que ela não estava percebendo aquele mau cheiro?

Muitas e muitas vezes sofremos em decorrência do que os outros fazem ou deixam de fazer. Na verdade, nenhum motivo há, de fato, para esses sofrimentos. Nada justifica a frustração e a tristeza derivadas do comportamento dos outros. Os outros têm todo o direito de fazer o que bem entenderem. Se fizerem coisas erradas, provavelmente a justiça se lhes será acionada; se fizerem coisas certa, é possível que sejam por isso bonificados.

Se alguém ganha na loteria e resolve doar todo o prêmio para os outros, que motivos eu tenho para contestar essa decisão? Se outro resolve se apaixonar pela pessoa que sabidamente é desonesta, porque devo interferir? Se o sócio deixa os copos em cima da mesa, por que isso seria motivo de descontrole das minhas emoções? Se alguém não consegue sentir o cheiro de xixi, isso é motivo de irritação minha? 

A ciência e as histórias de vida têm mostrado que as paixões descontroladas jamais levaram à mudança do comportamento dos outros. Diferente das atitudes, não se combate um suposto mal com um mal inquestionável. E são justamente as atitudes que devem ser acionadas, não para alterar o comportamento indesejado do outro, mas para retirar o suposto motivo do descontrole emocional.

Se os copos estão em cima da mesa e isso causa aborrecimento, retire-os. Se a roupa de cama está cheirando a xixi e isso incomoda, retire-a e/ou lave-as. Se as paredes da casa estão sujas e isso te causa descontrole, lave-as ou pinte-as. Se a comida do almoço não te cai bem, aprenda a cozinhar e faça-a todos os dias.

Certa vez o reitor de uma universidade entrou no banheiro dos homens e viu que uma torneira estava quebrada, jorrando água e inundando vários compartimentos. Imediatamente tirou o terno, retirou a gravata e a camisa e se pôs a cessar o jorro de água, no que foi bem sucedido. Em seguida acionou o pessoal da engenharia para providenciar o conserto definitivo.

Se o principal executivo de uma organização gigantesca é capaz de atitude semelhante, por que eu não seria? Depois que a instituição soube do ocorrido, divulgação feita pelos alunos e professores que estavam ali naquele momento vendo a atitude do reitor, praticamente todos louvaram a iniciativa. Tanto é assim que estou eu aqui a lembrar desse feito, mais de duas décadas depois.

Toda iniciativa desse porte é divina e louvável. É o que todos gostariam de fazer, mas, incrivelmente, não se sabe o porquê de não levá-lo a cabo. É formidável a atitude de alguém que recolhe o mendigo da rua e o leva para sua casa para tratar dele como se fosse parente seu, mas é impressionante que aquelas pessoas que mais se emocionam ao saber dessas ocorrências são aquelas que menos capazes são para fazer o que lhes emociona. É provável que a emoção não seja devido ao fato presenciado, mas pela consciência de sua incapacidade.

Fazia mais de mês que os funcionários entravam pelo portão quebrado da entrada principal e se contorciam um pouco, para que não se machucassem. Um deles, que estava a serviço na unidade de outro estado voltou e, ao entrar, percebeu o portão trincado. Deu meia volta e foi a uma pequena loja de material de construção da esquina, comprou uma nova dobradiça e substituiu a que estava com problema. Novamente todos poderiam entrar na empresa sem problemas.

O que esse servidor fez? Ele foi lá e fez. Simples assim. Ele não esperou que alguém o mandasse fazer, mesmo por que essa não era sua responsabilidades. Também não ficou xingando a empresa e os funcionários responsáveis pelo portão quebrado. E tampouco ficou resmungando pelos cantos pelo contorcionismo necessário para que pudesse entrar sem se ferir devido ao portão quebrado. Ele foi lá e fez.

Vai e faz. Não resmungue. Não esbraveje. Não xingue. Não culpe. Vá lá e faça.

Se os copos estão em cima da mesa, vá lá e os coloque no lugar. Se a roupa de cama está fedendo xixi, vá lá e as lave. Se seu chefe não lhe dá bom dia, dê bom dia a ele. Se seu marido não limpa as paredes da sala, vá lá e limpe-a ou pinte-a. Faça isso uma vez e tantas quantas forem necessárias, se isso lhe incomodar. Deixe o seu ambiente o mundo do jeito que você gosta. E isso só precisa de sua ação. Vá lá e faça.

Se você fizer isso, coisas milagrosas vão começar a acontecer. A primeira é que o tempo perdido com tristezas e frustrações vão diminuir muito. E com a possibilidade de desaparecer. A segunda é que você se tornará mais autônomo, independente, não precisará mais dos outros para que você se sinta bem. Você será capaz de preparar o caminho do seu sentir bem. A terceira é que você descobrirá inúmeras coisas que precisa aprender e que não sabe fazer. Isso lhe proporcionará mais conhecimentos e habilidades. E, quarta, como todo conhecimento e habilidade mudam o nosso comportamento, você se recobrirá de atitudes cada vez mais bela, o que levará ao quinto milagre, que é mais e mais pessoas gostarem de você.

Ir lá e fazer, portanto, é uma atitude simples que transforma completamente a vida da gente. Se você vive reclamando que não tem dinheiro, vai lá e aprende uma forma legal ter o dinheiro que você quer ter. Se vives triste porque não consegue o reconhecimento profissional que teus conhecimentos e habilidades permitem, vai lá e obtém outros conhecimentos e novas habilidades que te tragam o reconhecimento esperado. O que não vale é ficar parado, reclamando da vida e sendo infeliz. O tempo passa rápido. E logo já é chegada a hora da partida.

Vai lá e faz. Deixe o mundo mais parecido contigo. E seja feliz.

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